Beijar o filho na boca pode parecer um simples ato de carinho e para muitos pais não tem qualquer problema. No entanto, nem todos os especialistas aceitam esta atitude e deixam um alerta.
«Não é correto nem normal», defende a pediatra Maria do Céu Machado, em declarações ao site Crescer. O tema que divide muitas opiniões. «Um abraço apertado e um beijo na cara são uma forma de carinho fantástico. O beijo na boca tem uma conotação sexual que a criança só identificará mais tarde, o que pode não ser necessariamente lesivo, mas qual é a necessidade?», questiona a presidente do Infarmed.
Sobre os riscos para a saúde das crianças, Maria do Céu Machado enumera alguns. «Em caso de doença infecciosa (herpes labial, constipação, gastroenterite, entre outras) pode ser veículo de infeção mais grave, pois a carga viral passada é maior do que pelo ar, especialmente o herpes, que pode ser contagioso em fase muito precoce. E quando os pais são fumadores, há vestígios de nicotina também absorvidos por esta via», alerta.
Já para a pediatra Carla Santos, o beijo na boca de um filho «pode ser considerado uma normal demonstração de carinho». No entanto, deve ser evitado em algumas circunstâncias.
«Se o sistema imunitário da criança ainda for pouco desenvolvido como em idades mais precoces (exemplo nos recém-nascidos) ou comprometido, como em crianças com doenças que cursem com diminuição da imunidade (exemplo doença crónica e/ou imunodepressão) e ainda em circunstâncias em que podem aumentar o risco de doença nos filhos, como quando os pais estão doentes podendo transmitir as doenças aos filhos (muitos vírus e bactérias são transmitidos através da saliva)», explica a especialista, Ainda em declarações à Crescer, que não aconselha, mas também não condena. «As manifestações de carinho são atos muito pessoais e a sua interpretação depende de muitos fatores entre os quais culturais e familiares.»
A enfermeira Carmen Ferreira não censura quem o faz, mas reconhece que há riscos, deixando o seu alerta. «Considero que o beijo é uma forma de expressão do nosso carinho e amor e, como tal, não censuro os pais que o fazem, pois é algo até cultural e muito comum em determinadas regiões. Contudo, é preciso entender que o contacto direto com a mucosa da criança pode ser um meio de contacto e passagem de microorganismos, que podem ter impacto na sua saúde, uma vez que a sua imunidade ainda está a ser desenvolvida», salienta a profissional de saúde.
A enfermeira aconselha também a limitar este ato de carinho «em caso dos pais estarem doentes, em bebés recém-nascidos ou até mesmo em casos onde a imunidade ainda não esteja plena.»
«Podem na mesma demonstrar o seu afeto, mas especial atenção se a vossa saúde estiver mais debilitada, de modo a protegerem a do vosso bebé. Caso contrário, é uma opção dos pais que não compromete a nível físico a criança, com a ressalva dos casos que referi anteriormente.»
Texto: Filipa Rosa; Foto: D.R.
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