A morte de um irmão quando eram crianças, o divórcio dos pais, os anos divididos entre Portugal e Angola, a dependência da mãe, o afastamento do pai, a paixão pela dança clássica que demorou a abraçar foram os temas abordados por Isabel Ruth no Alta Definição deste sábado, dia 23 de novembro. O passado da atriz, que pode ser vista na novela Terra Brava, da SIC, está recheado de momentos que a transformaram, como a própria diz, no «herói» da sua própria vida.
O episódio mais complicado, aquele que representou «o maior sofrimento» por que já passou, aconteceu, porém, quando já era adulta: a filha Ramaya foi «raptada». «Foi o pai dela. Eu sou muito resistente. Resisti a isso, mas posso dizer que foi o maior abalo da minha vida», contou a Daniel Oliveira.
Isabel Ruth: «Fiquei quase sem me poder mexer»
Isabel Ruth tinha estado a viver em Madrid, Espanha, e regressado ao nosso país «há mais ou menos 15 dias». «Afastei-me [do então companheiro] e trouxe a minha filha, porque não a queria perder. Então, o pai dela veio. Disse que vinha de visita. Eu fui à mercearia fazer umas compras para o almoço. Quando cheguei a casa, já lá não estava ela. Nem a mala. Nem o passaporte. Fiquei quase sem me poder mexer», lembra.
A atriz conta que apanhou de imediato um táxi «para o aeroporto, que nessa altura era pequenino e tinha apenas um balcãozinho». Perguntou pelo avião que iria descolar para a capital espanhola e a resposta deixou-a em «estado de choque»: «Acabou de sair». Isabel Ruth voltou para casa, para «mergulhar» para dentro de si. «A dor era tão forte que não consegui mexer-me. Fiquei ali quieta. Fechei os olhos e quando os abri era de noite. Passaram oito horas, mas para mim foi um minuto».
Restou-lhe aceitar. E esperar. «Quando aceitamos estas marés de grandes ondas, e não podemos fazer nada sobre isso, só temos de aceitar… e esperar».
«Não a vejo há uns anos»
Passados sete anos desde esse trágico acontecimento, Isabel Ruth teve outra filha e a dor de ter perdido a primeira «acalmou». Reencontraria Ramaya quando esta já era uma jovem adulta. A primeira aproximação «foi uma coisa dramática»: «Corremos uma para a outra, chorámos muito, falámos», recorda. Agora, não se falam.
A artista e ex-bailarina, de 79 anos, não conseguiu «recuperar» a filha «na totalidade». «Não fui egoísta ao ponto de a separar de uma infância que não foi comigo. Ela adaptou-se a outra família e quando cresceu fez a sua escolha. E a escolha foi, obviamente, por quem com mais conviveu. Ela está bem e eu também estou bem», explicou.
«Os seus filhos manifestam amor por si?», quis saber Daniel Oliveira. «Sim, os meus filhos amam-me. Só a Ramaya, que vive em Espanha, é que tem sempre lá uma pedrinha. No fundo, não aceitou, não compreendeu bem. Acho que o pai também a manipulou. Ficou uma mágoa. Não a vejo há anos porque achamos as duas que era melhor assim. Ela não podia estar dividida. Mais do que me amarem, espero que se amem muito a eles próprios», terminou.
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais e divulgação SIC
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