Nilton Bala
O longo caminho até ser personal trainer dos famosos

Nacional

O personal trainer dos famosos Nilton Bala conta a sua história de superação à revista VIP

Sex, 22/11/2019 - 6:00

Ficou conhecido por ser o personal trainner  (PT) dos famosos. Nomes como Sara Sampaio, Marisa Cruz, Ruben Rua, José Fidalgo ou Lourenço Ortigão treinam com ele. Em 2017, o seu estatuto mediático saiu reforçado com a participação no programa da TVI Biggest Deal. Mas a verdade é que Nilton Bala chegou a Portugal em 2001 para ser… jogador de futebol. Veio com promessas de uma vida melhor, mas no final das contas ficou apenas com “uma mão cheia de nada”. Passou por dificuldades, inverteu o jogo a seu favor em 2009 e agora vive confortavelmente num condomínio de luxo na Foz, no Porto. Mas nem tudo foi um mar de rosas. Sente um vazio por não conseguir compartilhar o seu sucesso com a sua mãe e os sete irmãos, que vivem em Santa Catarina, no Brasil. É uma entrevista bastante reveladora de uma figura controversa, que decorreu no ginásio Domus Premium, no Porto, e que aconteceu a propósito do seu livro Fique em Forma em 28 Dias. 

VIP – Promete, no livro, que se pode ficar em forma em 28 dias. É mesmo verdade?
Nilton Bala – Se tiver disciplina… Há três pilares fundamentais, que eu ensino no livro, para atingir o sucesso: treino, dieta e descanso. Sem estes três pilares é difícil ter um padrão estético acima da média. Lancei este livro com o objetivo de poder chegar a mais pessoas. 

Revela muitos segredos no seu livro?
Bem, este livro não esconde nenhum segredo. O trabalho que desenvolvo com os meus alunos na parte presencial, desde os mais conhecidos aos mais anónimos, eu coloquei no papel. Não seria justo ficar a esconder as coisas. Qualquer pessoa tem a total liberdade de treinar como estivesse comigo a nível presencial.  

Portanto, posso ambicionar ter o corpo do José Fidalgo só lendo o livro…
O treinador personalizado é muito detalhista. Quando o indivíduo está comigo consigo fazer a correção. Portanto, o que eu revelo no livro pode aproximar-se de um treino meu, mas os resultados nunca vão ser como o treino personalizado. 

É conhecido agora por ser o PT dos famosos. Pode dizer qual dos famosos é o mais exigente?
Depende das alturas. Lembro-me, por exemplo, quando o Lourenço Ortigão fez uma capa de revista masculina tornou-se muito exigente. Queria objetivos. Estava a gravar no Norte do País e vinha treinar comigo à hora que fosse preciso. 

E segredos, pode revelar alguns? Como é que a Sara Sampaio tem o “corpo de anjo”? E a Marisa Cruz consegue manter uma forma invejável?
Para mim, a Marisa tem 23 anos [risos]. Ela trabalha só com a força do corpo. É raro eu dar-lhe halteres. A Maria Cerqueira Gomes faz muito trabalho aeróbico. Prefere fazer jogging na rua e gosta de trabalhar pernas e abdómen. A Sara Sampaio não há nada que, do meu ponto vista, possa melhorar. Ela não tem nada para melhorar. Faz treino para manter a forma.  

Apesar do caminho do sucesso que está a percorrer, nem sempre o seu trajeto foi um mar de rosas. Sei que quando veio para Portugal, o plano era jogar num clube de futebol… 
Sim, mas não deu certo. Eu não gosto muito de falar sobre isso. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. Se não fosse esse convite não estaria aqui, de certeza absoluta. Eu não acredito no acaso. Sou uma pessoa de fé.

Foi a fé que o ajudou a ultrapassar as dificuldades?
Dizem que a fé é o firmamento das coisas que não se veem, mas a prova das coisas que se esperam. Ou seja, no momento mais crítico da minha carreira, onde eu não era o PT das estrelas, e não tinha esta relevância mediática, sempre vi um sonho à minha frente. Sempre consegui focalizar e sempre soube onde queria chegar. Sempre tive claro na minha mente que se era para não ser ninguém aqui em Portugal, preferia voltar para casa e ser ninguém no meu país. 

Mas volto a insistir. Conte a sua história da sua entrada no nosso país…
Eu venho para Portugal em 2001, depois de receber o convite de um empresário para jogar futebol em Portugal. Tenho carteira de profissional de jogador de futebol desde os meus 16 anos e, na altura que fui abordado, estava bem no clube de Santa Catarina, no Brasil. O ordenado era bom. Fizeram-me uma proposta que achei vantajosa para a minha carreira, mas quando cheguei cá não aconteceu nada do que eu tinha acordado.  

Quando percebe que o convite de sonho é afinal uma “mão cheia de nada”, qual foi o seu primeiro pensamento?
Mudar a direção da minha vida. Pensei em algo relacionado com desporto. Tirei várias certificações de personal trainner para poder sustentar a minha vida em Portugal.

E como ganhou dinheiro no imediato?
Eu tinha um pé-de-meia. Mas arranjei trabalho como barman no bar e restaurante Tuareg, em Matosinhos. Foi algo que tive de fazer para pagar o quarto onde vivia em situações precárias. Hoje, tenho a sorte de viver num condomínio de luxo,  mas antes tive de viver num quarto com situações precárias, num bairro. Houve alturas que morei como um cigano. Ia procurando o mais barato. 

Quanto recebia por mês?
Quatrocentos e cinquenta euros por mês. Pagava 150 euros por um quarto, onde chovia, e vivia com o resto. Comi muito atum com massa. Agora, não posso ver essa comida à minha frente.

E esteve a trabalhar como barman até quando? 
Em 2002 recebi um convite para ir jogar para o Líbano, no Homenetmen Beirut, mas, mais uma vez, a realidade não foi bem o que tinha sido prometido. Fui sem nenhum contrato assinado e quando olhei para o empresário no aeroporto  senti que alguma coisa estava errada. Estive lá apenas um mês. Valeu por conhecer a cidade e a cultura. Decidi voltar para Portugal. Ir para o Brasil não era opção. Tinha criado a expectativa de vingar fora do Brasil. Voltei a pedir trabalho no bar de onde tinha saído.

Em que momento encontra o caminho do sucesso?  
Eu começo a trabalhar na área em 2004. Trabalhei em ginásios pequenos, dei treinos na rua, simplesmente pelo dinheiro e pela sobrevivência. Dava aulas no Parque da Cidade. Começo a descolar em 2009, quando treinei cá em Portugal uma pessoa mais conhecida, que foi a atriz brasileira Bárbara Borges. Ela encontrou-me porque eu estava a trabalhar no edifício transparente, em Matosinhos, e ela procurava um PT e perguntou-me se eu a podia ajudar durante os 15 dias em que ela esteve cá em Portugal, e a partir daí as coisas foram acontecendo de forma natural. Por acaso, era eu que estava naquele dia e ela tornou-se o meu talismã. 

Depois começaram a aparecer as estrelas nacionais… 
Depois da Bárbara foi a Maria Cerqueira Gomes, depois surgiu o Ruben Rua, o José Fidalgo, o Lourenço Ortigão, e o meu negócio foi expandido. O mundo da Internet é tão rápido e tão instantâneo, que uma simples storie feita por uma pessoa conhecida acaba por ter proporções muito grandes. 

Todo o seu caminho em Portugal foi feito sozinho…
Sim, sozinho. Não tinha cá ninguém

Nem a família…
[Pausa] Cara, a família… [nova pausa] A família é um assunto delicado [não consegue conter-se e emociona-se, deixando cair lágrimas pelo rosto]. É bom conseguir as coisas, mas é muito triste não ter com quem comemorar. Perdi o meu pai em 2015, estava a dar uma aula ao José Fidalgo quando recebi a chamada. Foi o pior dia da minha vida. A minha carreira é linda, tenho conseguido tudo, mas não ter a família para comemorar o sabor da vitória é mesmo muito triste. Tenho a minha mãe e sete irmãos a viver no Brasil, mas eu não consigo trazê-los para cá, nem posso pensar voltar para lá. Eles não me conseguem dar suporte se eu falhar. Não posso errar. É algo que tenho automatizado, tenho de fazer porque tenho de fazer, porque se eu cair não tenho ninguém para me segurar. 

Desde que está em Portugal nunca teve nenhum relacionamento amoroso? 
Sim, já cheguei a morar junto. De 2003 a 2004 morei com uma pessoa, mas as coisas não resultaram. E agora tenho um relacionamento um pouco complicado. Não por nós, é por outras situações.

Tem o objetivo de construir uma família? Casar, ter filhos… 
Sim, claro que é esse o objetivo. Em breve, se Deus quiser. É mais um sonho. Quero formar uma família. Já plantei uma árvore, já escrevi um livro, agora só falta fazer um filho.

A sua participação no Biggest Deal, na TVI, em 2017, foi bastante polémica. Como ficou a relação com a Isabel Figueira? 
Ficou ótima. O que aconteceu é que o programa tinha baixas audiências e era preciso fazer alguma coisa. Senão o programa tornava-se um campo de férias. As pessoas que estavam lá dentro tinham consciência disso. Não posso dizer que fui orquestrado pela produção a fazer o que fiz, porque estava a mentir, mas era preciso dar vida a casa. 

No mundo real, tornou-se amigo da Isabel Figueira?
Não posso dizer que me tornei amigo. Para mim, amigo é uma palavra muito forte.

Tem amigos?
Tenho. O Ruben Rua é amigo. Sempre que tenho alguma dúvida em alguma coisa, seja ela qual for, é a opinião do Ruben que eu procuro. É o meu melhor amigo. Também considero o José Fidalgo amigo e também o Lourenço Ortigão, que ainda num dos últimos telefonemas me perguntou quando me mudava para Lisboa de vez. 

Essa mudança é um objetivo?
É. Eu quero. Tenho condições para isso e tenho mercado.

A treinar tantas estrelas, já ficou milionário?
Não, ainda não (risos). Mas tenho uma vida bastante confortável. 

Texto: Emanuel Costa Rodrigues; Fotos: João Manuel Ribeiro e DR   

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