Maria Antónia Palla, mãe do primeiro-ministro António Costa, esteve esta terça-feira n’O Programa da Cristina, da SIC, não para falar do filho, mas para folhear algumas páginas dos seus 86 anos. Maria Antónia Palla acabou a entrevista de lágrimas nos olhos.
Na sua vida há um capítulo que se recusa abordar: a morte da filha, Isabel, vítima de um acidente de viação aos três anos. «Não vamos falar», respondeu, quando Cristina Ferreira tentou uma primeira (e única) abordagem.
Mulher à frente do seu tempo, foi no período pós-25 de Abril que Maria Antónia Palla lutou pela despenalização do aborto. Jornalista desde 1968 e uma das primeiras mulheres em Portugal a exercer a profissão, marcou a agenda feminista ao assinar, em 1976, para a RTP, a reportagem Aborto não É Crime. Há dois anos, contava que esse trabalho a levou a ser «acusada e julgada do crime de ofensa ao pudor e incitamento ao crime e exercício ilegal da medicina».
A mãe de António Costa já tinha contado à imprensa porque, ela própria, já tinha optado pela interrupção voluntária da gravidez: É «mãe de filho único» e «nada dada às fraldas». «Muita gente engravidava sem ter vontade. (…) [O aborto] Era uma coisa horrorosa. Havia dois preços: com ou sem anestesia. Fiz o mais barato. É horrível, é pior do que ter uma criança».
Esta manhã, assegurou a Cristina Ferreira, que «apesar de continuar» a envolver-se «em muitas coisas [da sociedade]», já não é tão interventiva. Dedica-se, acima de tudo, aos netos, até porque o filho «tem a vida dele». «Vivemos os dois sozinhos muito tempo. Agora, vejo-o muito na televisão, mais do que em casa. Ele não tem tempo, e eu entendo isso. Temos de nos habituar, por muito que nos custe, que eles ganham asas…», contou.
«Multiplicam-se as partidas das pessoas e estas fazem-nos muita falta»
À comunicadora da Malveira, Maria Antónia Palla recordou que se casou de vermelho e não quis ser acompanhada pelo pai porque «não ia ser entregue a ninguém». «Qual Igreja! Casei-me no registo civil. É um orgulho ser casada em nome da República Portuguesa», atirou.
Esse casamento, o primeiro de três, «acabou pouco depois de o António ter nascido». O divórcio foi dos momentos que mais lhe custaram. «Vivemos e convivemos com uma pessoa durante vários anos. Há a amizade, o amor… (…) As pessoas separam-se e não têm de ficar inimigas. Costumo dizer que um bom divorcio é tão bom como um bom casamento», refere.
São precisamente as recordações que a deixam com lágrimas no rosto. «É o passado, percebe?», diz a Cristina Ferreira. «Há saudades… Saudades também dos meus amigos que têm morrido. Isso é uma coisa que pesa muito nesta altura da vida. É a perda que incomoda», desabafa, antes de pedir para não se «alongar» por ser «chorona». «A certa altura, multiplicam-se as partidas das pessoas e estas fazem-nos muita falta. Os amigos são a família que escolhemos», remata.
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais
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