Crime Seixal: Mãe da menina morta pelo pai escreve palavras de dor
«Matou a minha filha enquanto dormia…»

Nacional

A mulher que perdeu a filha e a mãe às mãos do mostro do Seixal quebra o silêncio e fala pela primeira vez do drama

Sex, 08/03/2019 - 12:59

«Irei continuar com a ideia que o monstro assassinou a minha princesa [a filha] de madrugada, durante o seu sono, provavelmente dopada com algum medicamento, para que não abrisse os olhos e não tivesse consciência de quem lhe estava a fazer mal». Estas são as palavras de dor da mãe que perdeu a filha, assassinada pelo pai, no crime do  Seixal. Sandra Cristina, que também perdeu a mãe neste crime, quebrou o silêncio e falou pela primeira vez do drama. Lara tinha dois anos e foi assassinada pelo próprio pai, Pedro Henriques

A mulher dedica também palavras à própria mãe: «O teu grito [da mãe], o único grito que os vizinhos dizem ter ouvido, sempre achei que fosse da dor que sentiste enquanto a lâmina pontiaguda da faca te perfurava. Não o teu grito não foi de dor, não lhe ias dar esse prazer [ao genro]. O teu grito foi de susto, da fração de segundo de intervalo entre aperceberes-te que ele estava armado, até dar o primeiro inevitável golpe por te apanhar desprevenida. Cobarde, psicopata, lobo em pele de cordeiro, como muitos que andam por aí, alguns até bem perto de nós», continuou.

Pedro Henriques suicidou-se depois do crime. 

«Deve-te ter dito que a nossa princesa estava morta. Ele sabia que davas a vida por ela, mas quis que soubesses que a tua luta, a nossa luta tinha sido em vão. Quis culpar-nos pela morte dele», escreveu.

Leia o texto na íntegra:

«Mamusca faz um mês que partiste, um mês que ouvi a tua voz pela última vez e nem nos despedimos direito, foi um até já.
Em todo este tempo ainda não te consegui escrever porque não consigo encontrar palavras para descrever a tua tamanha beleza como ser humano, a tua grandiosidade, a tua generosidade, o tamanho do teu coração, o que sabes que sempre foste para mim e, principalmente, a AVÓ que és.
Apenas consigo centrar-me nos longos minutos que te souberam a horas de pânico, raiva, sofrimento, angústia que sentiste até ao teu último suspiro.
Hoje tive um arrepio pelo corpo todo. Olhei para o relógio e eram 8h10m. Foi a essa hora que tudo aconteceu mamusca?!
Fui à janela e no céu cinzento começou a descobrir o sol. 
O meu cérebro tenta diariamente visualizar como tudo aconteceu. Não tenho a menor dúvida que aquele cobarde te disse que estava ali com a princesa para que lhe abrisses a porta, pois não era suposto deixá-lo entrar em casa.
O teu grito, o único grito que os vizinhos dizem ter ouvido…sempre achei que fosse da dor que sentiste enquanto a lâmina pontiaguda da faca te perfurava. Não, o teu grito não foi de dor, não lhe ias dar esse prazer… O teu grito foi do susto, da fração de segundos de intervalo entre aperceberes-te que ele estava armado, até dar o primeiro inevitável golpe por te apanhar desprevenida.
Cobarde… psicopata… lobo em pele de cordeiro… como muitos que andam por aí, alguns até bem perto de nós.
Sei que não te deste por vencida. Tentaste lutar uma luta desigual. Tentaste-te defender e evitas-te que fossem mais profundos certos golpes que tinhas no rosto. Mas o que mais me dói é saber que sofreste… e muito… É saber que aquele monstro depois de te ver indefesa, caída no chão, num lago de sangue, ainda fez questão de aguardar uns bons minutos só pelo prazer de te ver sofrer… ainda deve ter esboçado um sorriso, proferido algumas palavras atormentantes e depois sim, deu o golpe final!
Deve-te ter dito que a nossa princesa estava morta. Ele sabia que davas a vida por ela, mas quis que soubesses que a tua luta, a nossa luta pelo bem estar da menina tinha sido em vão. Mais do que isso, quis-nos culpar pela morte dela.
Mamusca até sair o resultado da autópsia irei continuar com a ideia que o monstro assassinou a nossa princesa de madrugada, durante o seu sono, provavelmente dopada com algum medicamento, para que não abrisse os olhos e não tivesse consciência de quem lhe estava a fazer mal.
Já a trazia sem vida quando aqui veio. Assim, se por algum motivo os seus planos falhassem, o principal estava feito. 
Mamusca vou dignificar a tua morte, a vossa morte. Leve o tempo que levar… 
Sabes, hoje as duas pessoas mais importantes da minha vida estiveram em simultâneo comigo no cemitério. Não sei porque razão hoje, só hoje, faltaram-me as palavras. Não sabia o que te dizer, houve muitos momentos de silêncio , lágrimas em silêncio … com voz no coração. E nesse silêncio o sol que tinha ficado encoberto pelas nuvens regressou.
Escrevi, escrevi, estão aqui tantas palavras mas, na realidade, ainda não foi desta que te escrevi. Tu sabes… Amo-te… Amo-vos».

Conheça mais pormenores sobre este caso aqui. 

Siga a Revista VIP no Instagram