É sentada à conversa com Júlia Pinheiro, que Carla Andrino, nesta quarta-feira, dia 20 de fevereiro, faz uma retrospetiva sobre aqueles que foram, certamente, os momentos mais delicados da sua vida.
O diagnóstico de cancro da mama surpreendeu a atriz, que não poupa elogios ao comportamento irrepreensível da família. «A família foi chamada, não, a família esteve lá, esteve lá em peso e, às vezes, muitas vezes, sem falar, não é preciso, tudo é comunicação», refere, grata pelo acompanhamento.
A apresentadora questiona-a, no sentido se saber o quanto estaria, certamente, fragilizada, mas Carla Andrino surpreende na resposta. «Emocional e psicologicamente eu estava fortíssima… Com muito respeito e sem medo… Isto norteou sempre o meu processo, onde, fisicamente, fiquei debilitada, mas psicologicamente eu estava fortíssima», sublinha, cheia de certezas. É que « a vida era linda» e a também psicóloga não quis entregar todos os pontos. Guardou alguns para ela e superou a doença.
O processo foi delicado. Júlia sabe-o bem e sabe até que, atrás das cortinas, no palco, a atriz ia tantas vezes vomitar, entre um número e outro de representação… Ainda assim, nunca deixou o trabalho para trás, nem durante os tratamentos. Carla continuou em palco, a dar consultas de psicologia e, a par dos compromissos profissionais, encaixava os tratamentos, sem nunca deixar a televisão. Na época, estava a gravar Mistério do Tempo, para a RTP.
«Os que morrem não são guerreiros?»
«Eu precisava de me sentir viva e de mostrar à vida ‘olha, eu estou aqui’». E conseguiu, reconhecendo sempre que «uma luta destas é de família». É por isso, com um sorriso, que fala no apoio familiar que nunca lhe faltou. «As pessoas não sabem lidar, o que dizer, o que fazer, preferem ausentar-se e essa ausência pode doer muito, pode soar a abandono…», salienta, entretanto.
Carla Andrino, que, melhor do que ninguém, sabe de que luta se trata, não entende porém, certos comentários que ouve tantas vezes. «O que me irrita um bocadinho: ah ela é uma guerreira, os que morrem não são guerreiros? (…) Correu bem, acho que é uma injustiça enorme quando dizem ‘ela é uma guerreira’, parece que os outros não lutaram, quantos não lutaram até à morte?», lança a questão, profundamente solidária com quem, infelizmente, não conseguiu sobreviver.
É de mão dada com o marido, Mário Rui, que a atriz percorre a mémoria para ir contextualizando o que passou durante a fase mais crítica da doença. O companheiro de sempre, nunca voltou as costas, nem nos momentos mais delicados, como o próprio conta: «Custa um bocadinho assistir aos tratamentos e é muito importante».
Porém, é no momento em que a filha do casal, Marta Andrino, intervém, que as lágrimas falam mais alto… É uma nova Carla, a minha sempre foi muito forte, muito segura, mas acho que o que melhorou foi a paciência dela», começou por salientar Marta, sem conter a emoção. «A minha mãe conseguiu melhorar os defeitos vincados, as posturas da vida e torná-los mais suaves, o que a tornou muito mais feliz. Foi um processo natural e, ao mesmo tempo, harmonioso para todos», contou, ainda, transmitindo uma mensagem final muito positiva.
Texto: Tânia Cabral com Ricardina Batista; Fotos: Reprodução Instagram
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