Débora Sá sucedeu a Maria Cerqueira Gomes nas tardes do Porto Canal e é agora o rosto do Olá Maria. Amiga íntima de Cristina Ferreira, a apresentadora revela, na primeira entrevista após este salto profissional, como nasceu a amizade com a mulher mais poderosa da TV portuguesa.
Mãe de André, de 14 meses, fruto da relação com André Pedrosa, Débora Sá encontrava-se em licença de maternidade quando recebeu um telefonema com o convite. Não hesitou.
Passaram-me quase dois meses desde que assumiu a apresentação do Olá Maria!. Qual é o balanço?
Débora Sá – É muito positivo. Estava um bocadinho ansiosa porque a Maria é uma figura muito querida, está aqui desde o primeiro dia e sei que as pessoas gostam muito dela. Aceitei obviamente o desafio mas estava assim… um bocadinho… as redes sociais às vezes são um bocadinho cruéis e as pessoas empolam as coisas. Não estava à espera de ser tão bem recebida. Há pessoas que disseram coisas simpáticas que me marcaram. ‘A presença simpática mantém-se e melhorou o argumento’.
Em que sentido?
A minha formação é jornalística e eu sou um bocado de ‘gancho’. Nunca faço as coisas pela metade e envolvo-me muito nos conteúdos. Peguei num projeto que não é meu, que tem o nome da Maria, desenhado à imagem da Maria e, aos poucos, foi-me sendo permitido ir alterando os conteúdos para ir ao encontro do que eu sou. Tentei trazer entrevistas, porque apercebi-me de que o programa, apesar de ser muito dinâmico, tinha falta ali de uma conversa boa para ser ouvida a meio da tarde. E desde o primeiro dia que consegui trazer isso.
Teve receio das comparações?
Sim. Passou-me isso pela cabeça mas, ao mesmo tempo, pensei: ‘vou dar o meu melhor, não vou ser igual a ninguém’. Eu e a Maria somos amigas mas não temos nada a ver uma com a outra! As comparações são inevitáveis mas… o que é que eu posso fazer? É impossível estar num programa de hora e meia sem sermos nós próprios. É tudo tão transparente que nem dá para preparar. Se as pessoas gostam, ótimo, se me comparam, é mau para mim. É mau para toda a gente porque nunca vou conseguir ser igual.
A sua entrada no Olá Maria! acontece durante um turbilhão mediático (a saída de Cristina Ferreira para a SIC e a ida de Maria Cerqueira Gomes para a TVI) e a Débora acabou por ir por arrasto. Como é que viu estes meses de loucura?
Eu estava de licença de maternidade, o meu momento zen (risos)! Estava a acompanhar em casa, tudo a acontecer e eu ali, com o meu bebé. Acabei por assistir de forma muito zen. Eu gosto muito de televisão, é interessante ver o mercado a acontecer! Felizmente, correu bem para o meu lado também. É uma dinâmica espetacular. Já há muito tempo que andava tudo em velocidade cruzeiro, acho que isto foi muito bom. Para todos! Para mim, foi. Para a Cristina e para a Maria, também.
Como é que lhe disseram que ia substituir Maria Cerqueira Gomes?
Ligou-me o meu diretor, ainda eu estava de licença [de maternidade]. Perguntou-me se eu estava interessada, nem esperou pela resposta. Ele conhece-me, sabe as minhas ambições. Na semana a seguir começámos logo a trabalhar para preparar o programa, porque eu estava um bocadinho ‘desligada’ da televisão. E aconteceu tudo naturalmente. A equipa é composta por pessoas que eu já conheço bem. Foi um regresso ao trabalho que, para os outros, parece atribulado mas, para mim, foi tranquilo.
Fale-me um bocadinho dos seus inícios. Sei que estudou jornalismo…
Em Coimbra…
E esteve na TVI.
Fiz estágio na RTP Porto e adorei. Mas não havia oportunidades na minha área, então fui trabalhar para a empresa dos meus pais. Um ano e meio! Depois, abriu um curso de apresentadores e locutores em Lisboa e eu disse ‘gosto muito de vocês mas vou-me despedir!’. Ia fazer o curso à noite e, durante o dia, procurava trabalho. Pedi estágio na TVI, aceitaram-me logo e fiz as duas coisas: curso à noite e estágio de informação durante o dia. Queixava-me – eu queixo-me um bocado, gosto das coisas rápidas – e andava lá nos corredores a dizer ‘isto tem de acontecer alguma coisa!’. Porque eu não queria voltar para o Porto. Um amigo meu, que trabalha na produção do Você na TV, disse-me ‘os brasileiros do Viva Melhor andam à procura de uma pessoa e é o teu perfil! Vais aos canais todos e, pode ser que, daqui a um tempo, haja uma oportunidade melhor’. E foi assim. Passada uma semana, estava a trabalhar com o Viva Melhor. Estive uns três anos a fazer aquilo e, depois, achei que o trabalho tinha uma monotonia que me estava a deixar desconfortável. Não me estimulava. Despedi-me e vim para o Porto.
E foi logo para o Porto Canal?
Não. Vim para o Porto, liguei logo para o Júlio Magalhães porque ele era meu diretor [na TVI] e conhecia-me. Ele disse-me para esperar porque não tinha nenhuma oportunidade em aberto. Trabalhei um ano como responsável de comunicação e marketing numa empresa. Depois ele ligou-me e eu vim a correr aqui para o Porto Canal (risos)!
Começou por apresentar o Consultório.
Sim. Já não fazia televisão há algum tempo. Era um programa sobre conteúdos médicos, com uma hora e meia de duração. Pensei que ia ficar anos a fazer o programa. E eu gostava porque obrigava-me a estudar. Fiquei lá só seis meses porque, depois, comecei o Grandes Manhãs com o Ricardo Couto. Durou um ano e meio e, depois, voltei para o Consultório. Depois tive bebé e, depois, voltei para o Olá Maria!.
A Débora é uma persistente, não desiste.
Eu luto muito pelas coisas. Eu sei que falo de assim de forma ligeira, com jeito de miúda, mas não. Quando me despedi, em Lisboa, namorado, pais, ninguém me apoiava! Porque eu estava num sítio super confortável, toda a gente gostava de mim, os meus patrões diziam-me ‘não me falhe, eu preciso de uma pessoa de confiança em Portugal’. Ganhámos afinidade, quase como uma família, e aquilo foi muito complicado. Mas eu sabia onde queria chegar. Eu não sou muito ambiciosa. Só que sei o que quero fazer, sei o que faço bem. Então, luto porque temos todos a ganhar.
Sem planos para casar
Quando a Débora e o seu namorado [o médico dentista André Pedrosa] decidem ter um filho, como é que perspetivou isso no meio da sua carreira?
Não pensei. Para já, demorei mais tempo do que queria a engravidar. Pensei que ia ser muito rápido e demorou um ano e tal. Às tantas, deixei de pensar e aconteceu. E aconteceu numa altura boa porque ele nasceu em maio, numa altura em que os programas param. Aconteceu no timing certo. A gravidez não dá para pensar. Não acontece quando nós queremos, não conseguimos ir trabalhar porque os bebés precisam muito de nós. Não pensei muito se ia perder o meu lugar ou não. Em televisão muda tudo muito rápido. Não nos podemos agarrar aos lugares porque o nosso futuro está na mão de quem manda.
Quando regressou ao trabalho, teve aquele sentimento de culpa, de deixar o bebé…
Nada! Parte do meu trabalho pode ser feito em casa. Venho gravar mas a parte de preparação pode ser feita em casa. E, quando estou em casa, estou em casa. E como ele fica bem entregue, vim com o coração tranquilo.
Ter sido mãe mudou-a?
Ainda não tinha pensado nisso… Não sei. Acho que estou igual em muitas coisas. Estou mais gorda (risos)! Se mudou.. acho que, hoje em dia, não deixo tanto que me encostem, que me pisem. Estou mais segura, porque tenho como prioridades o bem estar do bebé e o meu bem estar. Hoje em dia sou muito tolerante mas… não deixo tanto que mexam com o meu bem estar. É segurança. Talvez seja essa palavra.
Há pouco falava sobre o André e frisou a palavra ‘namorado’. Está à espera do pedido de casamento?
Não, não, não!
Porquê?
Não sei. Desde miúda, não me lembro de, uma vez, ter sonhado com isso. Tinha o sonho de ser mãe. Esse está concretizado. Casar não me seduz. Gosto muito de ir aos casamentos das pessoas que me são próximas mas imaginar-me no altar, com aquela atenção toda… acho que começo a chorar com o stress (risos). Tenho outros sonhos.
Quais?
Viajar. Gostava de aproveitar mais o meu tempo ao ar livre, que é algo que me dá tranquilidade. Gostava de fazer mais férias, gostava de ganhar mais… (gargalhada)
A amizade com Cristina Ferreira
Quando se dá a saída da Maria Cerqueira Gomes para a TVI torna-se pública também a sua amizade com Cristina Ferreira…
… há muitos anos.
Como nasce esta amizade?
Começámos a ser amigas… até lhe vou dizer a primeira coisa que a Cristina me disse. Nunca mais me esqueci. Eu tinha assim aquele respeito e aquela distância para com ela. Eu estava a aprender, a estagiar na semana antes de começar o trabalho com o Viva Melhor, atrás das câmaras, e ela disse ‘quem é aquela?’. Assim com aquele tom de voz que a pessoa até se encolhe! E eu pensei ‘porque é que eu vim de amarelo?’. Fiquei encolhida mas depois pensei ‘ela é como eu. Se eu tivesse de dizer isto, também dizia’. Sem maldade. É como é. E criámos ali uma empatia imediata. Íamos de férias, fazíamos os nossos programas e criou-se ali uma amizade muito próxima. Ela já tinha visibilidade mas não era o que é hoje. Ainda era possível ir a um restaurante com ela. Nós íamos à praia e estavam pessoas ao lado dela, a falar dela, e não a reconheciam. Hoje em dia, não. Hoje em dia ela vem ao Porto, tentamos estar juntas…
Como vê, como amiga, todo o escrutínio em torno de Cristina Ferreira que, por vezes, se pode tornar injusto?
Vejo mal (risos)!
Acha que as pessoas são, por vezes, demasiado injustas por ela ser quem é e por ser mulher?
Eu tento não ler nem ver muito. Eu acho injusto porque gosto dela, gosto do trabalho dela e sei que aquilo lhe sai do corpo. Custa-me pessoas que a criticam – ou a mim, ou a vocês – mas que não fazem nada para sair da zona de conforto. Quando vejo aquele insulto gratuito… roí-me. Mas o caminho faz-se caminhado e ela faz o caminho. Ela trabalha muito, muito, muito e acho que uma pessoa assim merece respeito. Tudo em que ela toca é interessante para as pessoas, para as revistas, para tudo! Eu percebo que haja muita curiosidade. Eu, que sou amiga dela, gosto dela, gosto mesmo do trabalho dela, não gosto de ver determinadas coisas serem ditas. Mas acho que ela faz muito bem: não fala… e a caravana passa. Mas é preciso arcaboiço.
Se fosse apenas telespectadora, que programa veria: O Programa da Cristina ou Você na TV?
O da Cristina (risos)!
Porquê?
Para já, porque acho que é uma lufada de ar fresco. Depois, porque ela faz televisão como eu gosto e não posso fazer todos os dias, porque são canais diferentes, com orçamentos diferentes, estamos no Porto, os convidados estão muito longe… É o programa que tenho visto, sempre. Para aprender e porque me interessa. O programa é uma lufada de ar fresco e é por isso que as audiências estão ali, agarradas.
Como profissional de televisão, o que acha que não está a resultar tão bem no Você na TV para as audiências serem o que são?
Sabe que eu não tenho visto muito. De manhã preparo o meu programa, tenho o bebé, as minhas coisas para fazer, não tenho aquele tempo para ver. Vejo o da Cristina porque tenho curiosidade. Não sei… vi que tem cenário novo. Vi os primeiros dias da Maria [Cerqueira Gomes], também para lhe poder dar algum feedback… mas não vejo com atenção suficiente.
O que lhe disse?
Desejei-lhe boa sorte e disse-lhe que, de todos os sítios em que trabalhei, a TVI foi onde criei maior proximidade com as pessoas. Foi lá que comecei, tenho um carinho especial por aquele sítio. Tentei transmitir isso à Maria, para ver se ela ia calma…
E ela foi?
Acho que sim! Ela disse-me ‘dá-me conselhos’. O Manel [Luís Goucha] tem um dos maiores corações que eu conheço e a equipa era porreira. Era um daqueles sítios onde podemos estar à vontade. Tentei dizer-lhe isso. Não sei se ajudou mas acho que sim.
As pessoas têm a ideia de que, para vingar nesta área, é preciso estar em Lisboa. A Débora fez o caminho inverso…
Sim…
E é a prova de que, aqui, também se consegue fazer.
O trabalho aqui pode ter menos visibilidade, ecos mais pequenos mas, para mim, é o suficiente. Ter a oportunidade de fazer o que se gosta, todos os dias, perto de casa, sem ter de estar a 300 quilómetros da minha família, isso para mim é um privilégio. E eu tenho a certeza de que aqui se faz muito boa televisão. E isso dá conforto a quem aqui trabalha.
Agora ligavam-lhe e diziam ‘olha, Débora…’
Não me faça essa pergunta!
‘Anda aqui para as tardes da RTP!’. O que é que a Débora dizia?
Digo-lhe que, quando me colocarem uma proposta em cima da mesa, falamos. Até lá, não me faça pensar nisso (risos).
A Maria Cerqueira Gomes não há-de ter tido uma decisão fácil, com um filho pequeno, o marido…
Eu não queria estar no lugar dela. Nesta fase toda, pós Cristina, as comparações… Acho que não é uma decisão fácil.
Sente o seu coração dividido, por ser amiga das duas [Cristina Ferreira e Maria Cerqueira Gomes]?
Não! Eu respeito as duas e sou espectadora! Tenho preferências, obviamente, mas quero que elas façam bem que é para nós também fazermos. Quanto mais elas ascenderem, quanto mais elas ganharem, melhores conteúdos elas fizerem, melhor. Porque abrem caminho para, amanhã, ser eu a fazer. Não penso nada ‘ah, a Maria ou a Cristina foram para um lugar para onde eu o outra devíamos ter ido’. Não. Abram caminho. Isso eleva as pessoas desta profissão, nomeadamente as do Porto Canal.
Isso é uma filosofia muito rara num meio onde há muitas invejas.
No dia em que começar a ser diferente, afasto-me. Não é só neste meio. Nas empresas grandes é assim, também. No dia em que me transformar, não resisto muito. Nós temos de ser fieis a nós próprios.
Vê-se a fazer isto para sempre?
Quem é que lhe encomendou essa pergunta? Foi a minha mãe (gargalhada)? Não tenho plano B e venho sempre trabalhar muito feliz mas não sei porque o nosso futuro depende do público, audiências e de quem manda. Tento ir com a corrente.
Texto: Raquel Costa | Fotos: João Manuel Ribeiro | Agradecimentos: Porto Canal
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