Sofia Aparício aceitou o convite da rubrica Deus e o Diabo e, por isso, na última sexta-feira, dia 15 de fevereiro, sentou-se à conversa com José Eduardo Moniz, para falar sobre um dos assuntos que mais a incomoda.
A modelo e atriz, em frente ao país, começou por admitir que já foi vítima de assédio sexual… «Foram várias», refere, quando se lembra dos situações por que passou. «Eu lembro-me de sentir sempre muita raiva e nojo. Nunca cheguei a sentir-me humilhada, porque a verdade é que eu acabei sempre por resolver as situações naquela altura.»
«Não é porque eu estou assim vestida que eu estou a pedi-las…»
Curioso por saber pormenores, José Eduardo Moniz pergunta-lhe como eram essas aproximações. «Uma vez, uma pessoa que, hierarquicamente, estaria acima de mim, um diretor de um projeto onde eu estava, agarrou-me pela cintura e puxou-me para ele. E como eu não gostava dele e como nunca lhe tinha dado azo ou abertura a isso… Ou seja, não é porque eu estou assim vestida que eu estou a pedi-las…», aponta a entrevistada.
No contexto da conversa, o apresentador sugere que, por vezes, a roupa poderá gerar nos homens determinado tipo de apetites, mas a modelo é peremptória em mostrar que discorda. «Pois, não, não, não. Eu visto-me assim, porque eu tenho muito orgulho em ser mulher e gosto muito de me sentir feminina», justifica.
«Era apalpada»
«A liberdade dos outros acaba exatamente onde a minha começa. E a minha liberdade começa no meu corpo. E eu não admito que ninguém me toque sem a minha autorização. Mas isto acontecia-me mesmo em criança, no metro, em hora de ponta», relembra a artista, fazendo uma retrospetiva. «O assédio sexual, pelo menos na minha geração. Acho que a sociedade está a evoluir, de maneira que as pessoas têm mais respeito umas pelas outras. Acho que a minha sobrinha já não passou por isso, felizmente. Mas eu lembro-me que deixei de andar de transportes públicos por causa disso, porque era apalpada, não sei dizer de outra maneira…»
Sofia Aparício desvia, entretanto, a ideia de que o meio da moda é mais propício para situações de assédio. «É o meio da moda, é o meio dos advogados, são todos os meios… Acho que o meio da moda é sempre mais exposto, porque são mulheres bonitas», limita-se a sintetizar.
«Fui prejudicada profissionalmente»
Porém, apesar de ter passado por inúmeras situações, Sofia Aparício nunca fez uma denúncia formal às autoridades e justifica porquê. «Na realidade, eu resolvia as situações. Duas vezes, dei um estalo, outra vez dei um empurrão e fechei a porta…»
A atriz sublinha que se sentiu prejudicada por não ter acedido a solicitações de cariz sexual. «Se eu não dou abertura àquela pessoa, se eu não dou confiança, eu não admito, só porque essa pessoa é meu superior hierárquico. Onde eu trabalho não há bem superiores hierárquicos: há o chefe de produção, há os diretores de projeto, mas, pronto, alguém que me poderia contratar e, pelo menos, duas vezes deixei de ser contratada por causa disso. Fui prejudicada profissionalmente, sim…»
José Eduardo Moniz interrompe a intérprete de personagens e salienta que, ao não ter feito queixa, «torna-se cúmplice de práticas que são altamente condenáveis». Sofia Aparício acaba por concordar… «Talvez sim, mas eu via, nessa altura, que aquilo que aquelas pessoas faziam comigo faziam também com outras pessoas que alinhavam. Eu não sei de histórias de pessoas que tenham alinhado obrigadas. Mas tem razão, se calhar, devia tê-los denunciado», admite, por fim.
Texto: Tânia Cabral: Fotos: DR e Reprodução Instagram
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