Quim Barreiros prometeu e cumpriu. Nesta sexta-feira, dia 15 de Fevereiro, o pai, Joaquim Barreiros, completou 100 anos, e o cantor reuniu amigos e família para assinalar a chegada aos «três dígitos» do progenitor. Uma meta «pedida a Deus», disse o artista ao site da Maria, para cuja celebração não foram poupados esforços.
Depois de, durante o dia, ter recheado a Praça da República de Vila Praia de Âncora, no concelho de Caminha, onde nasceu e onde o pai vive, de oferendas para quem por lá passou – um porco assou no espeto e a cerveja foi à discrição –, Quim Barreiros juntou cerca de 500 pessoas na Quinta do Cruzeiro, em Ville, a pouco mais de três quilómetros, para um jantar feito ao som de concertinas e palavras de homenagem.
À entrada, debaixo do céu estrelado, estendeu-se uma passadeira vermelha. Mais de meia centena de mesas, dispostas num gigante salão e iluminadas a velas brancas, receberam sopa à lavrador, vitela assada acompanhada de batata, arroz e salada, e leite-creme para sobremesa.
O menu (o preço mínimo por pessoa nesta quinta é de 55 euros) foi servido por 20 atarefados empregados e preparado numa cozinha em tons de prata por outros 40. «Nunca vi uma festa assim», disse-nos Manuel, um dos convidados, espantado com o que os seus olhos viam. «O Quim é um espectáculo. É filho da nossa terra, claro! Isto só podia ser assim», acrescentou Emília, ambos amigos da família. Contas feitas, para receber os 500 convidados, a festa custou quase 30 mil euros.
Veja as imagens da festa na galeria acima.
Lá fora, alinharam-se as concertinas no chão até ao momento de surpreender o aniversariante. Cem tocadores, homens, mulheres e crianças, tocaram em uníssono e arrancaram palmas aos convidados, que «vieram de todo o lado». «Só da Associação de Tocadores do concelho de Ponte de Lima somos 31. Fomos convidados e estamos muito contentes por estar aqui», contou o presidente da organização, António Vale. Até a Bandinha da Moca, de Santarém, fez mais de 300 quilómetros para celebrar o centenário de Barreiros.
«O maior artista de Portugal»
O pai fez anos, mas o «grande herói» de Vila Praia de Âncora é (também) o filho. Por isso, no palco, cantaram-se modas para o «sr. Barreiros», que «chegou à flor da idade», e para Quim, «o maior artista de Portugal» e «o rei da música portuguesa». O chef Hélio Loureiro misturou-se com os «primos do Brasil e os amigos do Canadá», que atravessaram o Atlântico apenas para a ocasião. «O meu pai… É o melhor pai do mundo. É o meu pai!», frisou Quim Barreiros, antes de entoar A Cabritinha e Mestre de Culinária. De chapéu na cabeça, claro, porque «só pode ser assim».
Depois de os Parabéns a Você cantados ao som de fogo-de-artifício, Joaquim soprou as três velas colocadas num bolo enfeitado com uma concertina e assistiu a um vídeo que recordou a sua vida. Falaram os netos e os bisnetos. «Toda a gente quer partilhar connosco esta alegria da nossa família, de ver o nosso pai com três dígitos», ressalvou o artista.
Um pai com «alma»
Quase meia-noite. Joaquim Barreiros não dá sinal de cansaço, mesmo tendo estado «a dar beijos e abraços desde as nove da manhã». Foi ele quem passou o gosto pela música ao intérprete de sucessos como A Garagem da Vizinha e O Melhor Dia para Casar, bem como os três irmãos: Manuela, Rosa e Cláudio. «Só eu é que sou a ovelha ranhosa… Aprendi a tocar, mas… Para tocar é preciso ter o dom, é preciso ter alma», recorda Rosa, de 73 anos.
Joaquim Barreiras tem-na. Foi por isso que lhe pediram para, antes da festa terminar, mostrar os dotes de concertina que o avançar da idade não lhe tiraram. O aniversariante não se fez de rogado: sentou-se em frente aos 500 amigos e animou o final da celebração, sempre de sorriso no rosto. «O meu pai ainda toca na gaita», brincou o filho.
«Obrigada a todos. Que vivam até aos cem anos», desejou Manuela, carinhosamente tratada por Nela, antes de se despedir.
O dia seguinte
Vila Praia de Âncora não voltará a ser a mesma. Este sábado de manhã, a Praça da República continuava animada. Foi ela que recebeu Joaquim, nascido no Brasil e emigrado, aos oito anos, com a mãe professora e os irmãos, após a morte do pai. Viveu no primeiro andar do número 12 e era no rés-do-chão que, durante o dia, trabalhava na sua oficina de bicicletas. À noite, e durante 50 anos, percorria Portugal com a banda Alegria para animar bailes e romarias com tangos, valsas e pasodobles.
«O Joaquim é conhecido por toda a gente aqui na terra. É o Quim das Bicicletas (risos). E o filho também é conhecido, claro. Foi aqui nesta praça que o Quim passou a sua infância», lembra o amigo José. «O meu pai deu-me umas galhetas bem dadas nestas ruas», frisa o cantor.
«Educou-nos a todos a trabalhar. Podia deitar-se às quatro ou cinco da manhã por causa de um baile, mas às oito já estava a trabalhar nas bicicletas», recorda ainda Rosa. «O Quim e eu nascemos ali no primeiro andar. Havia uma entrada da oficina das bicicletas para a nossa casa», aponta.
No café que acompanhou o crescimento da família Barreiros, respira-se felicidade. O negócio esteve ao rubro e assim se espera que seja em 2020. «Já viu o que era se, dentro de um ano, voltássemos a estar todos aqui outra vez para celebrar os 101 anos do sr. Joaquim? Vai acontecer de certeza», atira uma vizinha.
O segredo da juventude? «Não fazer asneiras», garante-nos o aniversariante. «Estou muito emocionado com tudo isto. A festa foi bonita», terminou.
Até para o ano, sr. Joaquim!
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: João Manuel Ribeiro
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