Daniel Oliveira recebeu João Jesus, de 29 anos, no Alta Definição deste sábado, dia 16 de fevereiro. O programa foi gravado num sítio muito especial para o ator: o Teatro Experimental de Cascais.
Durante a conversa, João fez uma viagem ao passado e recordou os tempos de infância em que viveu na Amadora. O ator lembra-se particularmente das buscas que a polícia fazia na zona, à procura de droga.
«Na casa da minha avó a cama ficava de frente para a porta. Quando há rusgas, arrombam a porta e ficam ali parados com a shotgun na mão. Ninguém anda na rua. Lembro-me de a minha avó querer sair para ir buscar pão e a polícia não a deixar sair. São essas coisas que mais me marcaram.»
Numa destas rusgas, o tio de João Jesus foi levado. «Lembro-me, pelo menos, de cinco vezes. Depois, uma das vezes, levaram o meu tio e aí foi mais chato.»
«Ali era um terreno muito perigoso»
«Em todo o lado há problemas familiares. Acabei por perceber que ali era um terreno muito perigoso», explica.
«Há certas coisas que me lembro do meu tio, ele já não está cá. Ele dizia-me sempre: ‘Não faças isto. Isto vai-te desgraçar’. Dizia-me vários coisas que hoje ainda me lembro», relembra.
E nesta altura, Daniel Oliveira pergunta-lhe se se refere ao consumo de droga por parte do tio e se assistia ao mesmo.
«A única coisa [que me lembro] era o cheiro a vinagre. A minha avó lavava tudo com vinagre. Até hoje não gosto de vinagre por causa disso. Assistia mas não tinha a completa noção do que era aquilo. Agia normalmente, como um ser que nasce numa única realidade.»
Confrontado com o facto de viver em casa da avó e não dos pais, João diz apenas: «Acho que dava mais jeito». «[A minha avó] mimava-me muito. Apesar do ambiente, de manhã tinha sempre um donnut, um leite com chocolate. Tinha assim umas coisinhas queridas de manhã. Vestia-me e estava sempre comigo.»
Mas os conselhos faltaram muitas vezes… «Nunca houve um ‘tens de seguir isto ou aquilo’».
«Ficámos na sala a chorar»
Quando recorda a avó, que morreu há 14 anos, o ator confessa que tem boas recordações. «Vêm momentos muito próximos e coisas boas. Ela a chamar por mim no bairro. O problema de alcoolismo era muito complicado.»
Nesta altura, João ainda não tinha uma carreira de ator. «Tinha 15 anos. Tinha a minha mãe, mas foi difícil para nós. Fui ter com ela e ela ficou um bocado paranóica. Foi quando vi que a minha avó não estava ali naquela pessoa. Só ria e chorava, não conseguia dizer. Eu também chorei. Fartei-me de chorar. Ficámos na sala a chorar e, de repente, digo que vou ao Carlitos despedir-me dele. E quando estou a bater à porta do Carlitos, a minha avó aparece no beco. Sorriu lá ao fundo, a dizer-me adeus. Foi a última vez que eu a vi», revela, emocionado.
«Foi uma coisa tão especial. Eu a dizer que me vou embora a pensar que ela não conseguia sair dali e, de repente, está ao fundo da rua a despedir-se. Faleceu dois dias a seguir. Estava na escola e a minha irmã ligou-me», descreve.
A relação de João com os pais
João Jesus sempre manteve uma relação de amizade com a mãe. Com o pai sempre foi diferente. Quando questionado sobre o porquê de não ter uma relação com o pai, João responde simplesmente: «Porque não. Tenho relação, ainda hoje falamos, mas essa parte faz-me confusão». «Está resolvido. As coisas estão completamente resolvidas. Sentia o carinho de amor e considero-o especial em muitos pontos», finda.
«Alguma vez faltou comida na mesa?», perguntou-lhe Daniel. «Houve uma fase mais difícil. Uma fase da vida com um ordenado em atraso ou um mês sem trabalhar», responde simplesmente.
Com todas estes momentos marcantes, João Jesus confessa: «Às vezes questiono-me se me tornei um bocado frio. Mas gosto de surpreender». O ator chumbou duas vezes no 5º ano, facto que justifica com a rebeldia. «Era daqueles miúdos parvos que estão sempre a chatear os outros. Ainda levei com uma reguadas.»
«Felizmente apareceu uma pessoa muito importante»
«Felizmente apareceu uma pessoa muito importante. Ele namorou com a minha mãe e saímos do bairro», começa por explicar. João considera que Paulo, o companheiro da progenitora, teve um papel fundamental.
«Foi ele que me falou da escola [de teatro]. Um dia estávamos a andar no centro comercial e ele disse-me para eu endireitar as costas. Ensinou-me algumas formalidades que foram essenciais. E ensinou-me sem eu perceber. E fiquei em casa dele, que é ali na Amoreira, enquanto o tempo em que estudava.»
«[O Paulo] está sempre nos momentos mais importantes da minha vida. Nos pontos de mudança há sempre uma conversa entre nós», revela.
A relação com a mãe «é de amizade também». «Houve uma altura em que éramos confundidos com namorados. A minha mãe tem 49 anos. É uma lutadora. Tinha 20 [quando me teve]. É a mulher mais linda do mundo. Ela está sempre a dizer ‘acredito em ti’.»
«Ultimamente tenho pensado muito nisso, ter um filho»
Daniel Oliveira perguntou-lhe se já pensa em filhos. Ao que o ator responde: «Ultimamente tenho pensado muito nisso, ter um filho. Uma das coisas que mais me preocupa é como educar um filho. Quero ser um pai presente. Não o quero direcionar, mas quero aproveitar todo o momento».
«Eu vivo sozinho desde os 17 anos e sempre consegui ser auto sustentável e fazer a vida à minha maneira. Se calhar pós-escola houve ali uma altura de inconsciência. Noites e tal. Uma das coisas que mais me fazia confusão era o glamour do meio. Adoro ser reconhecido. Mas para não nos subir à cabeça é preciso umas certas defesas.»
João Jesus e Joana Ribeiro
Por fim, João Jesus falou sobre a relação que mantém com Joana Ribeiro há vários anos e a privacidade que ambos querem manter.
«Nunca alimentei. A nossa privacidade está tão ameaçada que acho importante preservá-la. A primeira abordagem à minha vida pessoal foi tão traumatizante, por isso, é que se calhar não há mais nada.»
E conclui com um grande elogio: «Nós gostamos de não ser vistos como dois. Eu tenho a minha carreira, a Joana tem a dela. Adoro. Acho que é das melhores atrizes portuguesas. Se não a melhor».
Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e reprodução Instagram
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