As origens, a infância e a vida simples do campo foram pontos que Cristina Ferreira fez questão de destacar, em entrevista a Daniel Oliveira.
Com uma carreira de quase duas décadas na televisão, Cristina Ferreira revela que as suas origens foram motivo de discriminação. «Não é fácil aceitar que uma miúda chegue do nada, num meio em que supostamente se vive de amigos, cunhas e oportunidades criadas pelos mais próximos. Eu vinha de um local que ninguém conhecia, chego, imponho-me, consigo crescer e não tenho problemas em dizer de onde vim», começa por dizer a apresentadora da SIC.
Cristina conta que, ao longo destes quase 20 anos, a legitimidade do seu trabalho foi questionada. «E isso nem sempre é fácil, muito menos quando é uma mulher. E é gira. ‘Como é que ela conseguiu fazer isto?’. ‘Será que não teve de fazer mais nada para chegar aqui? ‘. Tenho essa perfeita noção de que toda a gente disse isso ao longo dos anos. Não tenham esses preconceitos em relação às pessoas, não somos todos iguais», alerta a estrela da estação de Carnaxide.
Cristina faz também um pedido: «No dia em que me tornar parva, chamem-me à razão. Porque há momentos em que nos tornamos parvos e não temos noção disso».
A promessa que o pai fez… e não chegou a cumprir
Nascida e criada na Malveira, onde ainda vive, Cristina Ferreira cresceu como filha única, educada por pais que, como faz questão de realçar, nunca lhe cortaram as asas.
«O meu pai foi para o ultramar e quando ele regressou a minha mãe deixou a vida dela para ir viver com ele. Mas a minha mãe nunca pediu um tostão ao meu pai e eu sinto que é uma das coisas que fizeram o meu percurso. Eu vi a forma como ela, independente, fez o seu percurso e eu sinto que faço isso diariamente. Por isso, se isto acabar, faço outra coisa qualquer», explica.
Em confissão a Daniel Oliveira, a apresentadora da SIC conta que, na adolescência, chegava sempre a casa «às duas da manhã», por imposição do pai. Mas tudo mudou quando chegou à maioridade. «No dia em que fiz 18 anos não perguntei mais nada ao meu pai», conta, revelando ainda a promessa que o pai lhe fez… e que nunca cumpriu. «Esperei toda a vida por uma bicicleta que nunca chegou. Ele dizia ‘aos 18 anos dou-te o carro!’ e depois nunca deu o carro.».
Cristina Ferreira revela que, apesar de ter na mãe o seu maior exemplo, é com o pai que tem maior proximidade. «A minha mãe sempre teve uns certos ciúmes de mim e do meu pai. Ainda hoje acontece-me alguma coisa e a primeira pessoa a quem conto é ao meu pai», explica.
A apresentadora explica as razões pelas quais o progenitor nunca marcou presença numa ocasião importante do seu percurso académico e profissional. «O meu pai não foi a nada meu que tivesse impacto e eu só percebi anos mais tarde. Ele não gostava era de manifestar as emoções à frente dos outros. Ele sabia que estas conquistas da filha lhe iam fazer brilhar os olhos».
«O ambiente da feira é das coisas mais extraordinárias que possas imaginar»
Quando era adolescente e estava muito longe de sonhar que, um dia, seria A Cristina Ferreira, a menina da Malveira ajudava os pais e os tios na feira. Um sítio onde aprendeu o que é a concorrência. «Na feira é como na televisão. Havia um fair play aparente mas, no fundo, todos queriam vender mais. O ambiente da feira é das coisas mais extraordinárias que possas imaginar!», recorda.
Essas vivências, explica, tornaram-se uma mais valia na idade adulta, na forma como lida com todo o tipo de públicos. «Eu tive contacto com todas as pessoas e eu sei que, às vezes, há quem seja da cidade e não sabe as palavras que se dizem no campo. E eu sei disso tudo porque eu vivi isso tudo.».
Texto: Raquel Costa | Fotos: Arquivo Impala e redes sociais
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