Judite Sousa esteve à conversa com os pais dos seis alunos da Universidade Lusófona de Lisboa que morreram na Tragédia do Meco, em dezembro de 2013.
No primeiro episódio desta reportagem, os pais de Catarina Soares, que na altura do acidente tinha 22 anos, contam como souberam da notícia de que a filha era uma das seis pessoas que tinha desaparecido no mar.
«Foi precisamente à entrada de Alfarim, ao pé da bomba de gasolina que me liga o João Maria, o namorado da Catarina, a dizer que ela fazia parte do grupo que estava desaparecido: ‘são eles’», afirma António Soares.
Fernanda e António confessam que, no momento em que souberam da notícia, não conseguiram seguir com o carro. A viatura foi conduzida por uma pessoa que parou ao lado destes a perguntar se precisavam de ajuda.
Fernanda afirma que foram «os primeiros a chegar à praia» e que ao chegar ao Meco se depararam com «helicópteros, barcos, ambulâncias, uma tenda», tendo sido logo amparada por uma psicóloga da equipa que se encontrava no local.
«Veio uma psicóloga ter comigo e disse-me que se tinha salvado um. É óbvio que queria que fosse a minha filha e eu pergunto-lhe ‘foi uma menina?’ E ela de imediato me responde: ‘não, foi um rapaz’. Pronto, não consegui, não sei o que me aconteceu mais a partir daí», revela Fernanda, professora de profissão.
Questionados por Judite Sousa sobre como têm sido os últimos anos após o desaparecimento de Catarina, António conta que acredita que a filha «vai regressar brevemente».
«Dá-me aquela sensação de que a minha filha partiu em viagem e que vai regressar brevemente, foi só essa a nossa esperança. Ainda hoje temos essa esperança, foi para uma viagem e vai regressar um dia».
«Caminhei todos os dias para o Meco até aparecer o corpo da minha filha»
Para os pais de Catarina Soares, o momento mais complicado de ultrapassar após a partida da filha foi o Natal, uma vez que a jovem estudante de Turismo foi sepultada no dia 25 de dezembro de 2013.
«O momento mais difícil nos últimos cinco anos foi o Natal. Ela foi sepultada no dia de Natal, foi o nosso menino Jesus. Passamos a consoada a velar a menina e depois foi sepultada às 11 horas do dia 25 de dezembro de 2013», conta Fernanda.
António conta ainda que no momento em que tudo aconteceu foram várias as pessoas que se aproximaram por causa da dor que estes sentiam, mas que com o tempo acabaram por se afastar.
O pai da jovem revela ainda que, até o corpo de Catarina aparecer, «caminhou todos os dias para o Meco».
Para Fernanda continua ainda a ser difícil enfrentar a morte da filha tanto que, o quarto de Catarina continua intocável.
«O quarto da Catarina, por em quanto, está tal e qual como ela o deixou. Nunca liguei a aspetos materiais e agora muito menos, mas tudo o que está lá da Catarina, roupas, sapatos, não dei nada porque consigo fazer uma história através de qualquer peça da minha filha», revela acrescentando ainda que «mantenho os mesmos lençóis que estavam naquela altura, a roupa com que ela dormiu aqui em casa é a mesma».
António conta que os primeiros tempos foram os mais complicados porque «quando nos sentávamos à mesa, aquela ausência é difícil».
Para António e Fernanda é importante que o outro filho do casal não sinta que é menos importante que a irmã.
«O meu filho é muito importante e ele não pode pensar que a irmã é mais importante que ele até porque continuo a afirmar que tenho dois filhos, um está presente fisicamente, outro está vivo dentro de mim», revela Fernanda.
As palavras de esperança do Papa Francisco
Os pais dos seis alunos que perderam a vida no Meco estiveram no Vaticano e tiveram a oportunidade trocar algumas palavras com o Papa Francisco.
«O Papa Francisco disse-nos ‘os vossos filhos são lindos e rezo para que se descubra a verdade, para que tenham um pouco de paz. Rezem por mim também’».
Questionados por Judite Sousa sobre como se supera a morte de um filho, Fernanda revela já ter tentado «muita coisa» mas que existem momentos em que «começa a fazer mal».
«Tentei muita coisa para superar a minha dor. Falar dos meus sentimentos para um gravador, falar com a minha filha, escrever à mão [o que lhe vai na alma] e muitas vezes tenho de parar, quando vejo que me começa a fazer mal», revela.
Para António uma das formas de superar a dor é ir ao cemitério e falar com a filha, mas ao mesmo tempo tenta viver sem a presença da filha.
Todos os dias, depois de falar um pouco com Catarina, Fernanda revela que se despede com um «até já».
Texto: Redação WIN – Conteúdos Digitais; Fotos: Impala e DR
Siga a Revista VIP no Instagram