Nasceu na Guiné e veio para Portugal com cinco anos. Foi por cá que Mariama Barbosa fez a vida. Como relações-públicas conheceu “meio mundo” e tem muitos amigos famosos. Nunca sentiu problemas em se expressar e conta que o programa que teve na rádio – sobre moda – a ajudou a ter uma boa dicção. O gosto pela moda, uma área onde se sente como peixe na água há 20 anos, vem da avó, uma senhora que a habituou a pôr perfume quando ia tirar uma fotografia, algo a que Mariama sempre achou muita graça. Esteve na SIC Caras e prepara-se agora para se juntar a Paulo Battista e Susana Agostinho como jurada na segunda edição de Cosido à Mão, programa da RTP 1.
VIP – O programa Cosido à Mão prepara-se para uma nova edição. Presumo que esteja a correr bem…
Mariama Barbosa – Sim, está a correr muito bem. Ainda é um projeto novo, no qual fui muito bem recebida. Estou a sentir-me em casa e estou muito agradecida por isso! Espero que vocês gostem e que seja um programa muito “pow-pow-pow”!
Quando surgiu o gosto pela moda?
Desde muito nova. O gosto pela moda já vem da minha família. Digo que é da minha mãe, mas acho que é praticamente da minha avó, que é uma mulher já com quase 90 anos e nos habituou a pôr perfume antes de tirar fotografias, coisa que eu sempre achei a maior graça. A minha avó é uma pessoa muito vaidosa, no bom sentido. Tem sempre um cuidado com as peças que usa, mesmo que sejam de origem humilde. Nunca usou nada de grandes griffes, a não ser agora que temos possibilidades de lhe oferecer, mas ela sempre usou coisas com um bom corte e bom gosto.
E pela apresentação?
Bem, sempre me disseram que era uma pessoa muito extrovertida. Na escola, tanto na primária como na preparatória, já era a pessoa escolhida para apresentar, sempre fui delegada de turma também. Acho que a minha personalidade já diz tudo, não sou eu que procuro, sou sempre chamada. Tenho receio de errar, claro, mas isso nunca me impediu de enfrentar situações novas. Depois fiz rádio durante sete anos, que me ajudou imenso (tinha uma rubrica de moda na Rádio Oxigénio) e acho que a rádio te dá uma enorme estaleca, uma dicção melhorada e depois é uma questão de adaptação e a apresentação surgiu também através do meu trabalho de relações públicas, onde conheci muita gente.
São áreas competitivas?
São, mas quais são as áreas que não são?
Fez muitos amigos bem conhecidos. É fácil fazer amizades neste meio?
É fácil, sim. Pelo menos para mim, sendo que lealdade e descrição são valores muito importantes neste meio, onde, por natureza, toda a gente fala muito. Acho que um dos grandes segredos – e não é bem um segredo – para estares bem contigo e com os outros, é o respeito pelo próximo. E ouvir e calar. Um dos grandes segredos de ser relações-públicas é, tal como um padre, sermos capazes de ouvir todos os segredos e nunca revelá-los, e estar disponível a ajudar o próximo, sempre.
Como é a Mariama no dia-a-dia?
Despenteada (risos). Sou mãe, dona de casa, amiga, filha, neta, rabugenta, feliz, o normal, não mudo muito. Não sou uma Mariama diferente quando vou gravar. Há dias chatos, mas não mudo, mesmo, não tenho um botão para desligar.
É muito bem-disposta e brincalhona. Alguma vez foi mal-interpretada?
Sim, claro. Ninguém nos conhece, vão-nos conhecendo, uma vez cheguei a um bar onde estava a tocar uma música que gosto muito e pedi duas imperiais e disse “já!” e baixinho disse: “Antes que me arrependa”, mas ele não ouviu essa parte e eu tive de explicar e ele não percebeu, tive de pedir desculpa e “engolir o sapo”.
Alguma figura pública já se zangou consigo por causa de uma crítica?
Não, de todo. As minhas críticas não são acutilantes, não faço crítica de caráter, não critico pela pessoa que é, falo do conhecimento que tenho de moda, há 20 anos que trabalho na área. Aprendi muito, ainda estou a aprender não sou mais do que ninguém, também cometo erros, mas não, graças a Deus nunca aconteceu. Aliás, até me deviam pagar por dar conselhos grátis (risos).
Nasceu na Guiné. Como é que construiu o seu percurso em Lisboa?
Tem sido fantástico. Tinha um objetivo que era ser feliz, nunca pensei em trabalhar em televisão ou em rádio, nunca pensei em conhecer gente influente, mas o meu objetivo era ter uma independência financeira e também espiritual e, por isso, já trabalhei em vários sítios. Nunca tive vergonha de carregar caixas! Vou para uma produção ou algum evento que tenho, se for preciso carregar, limpar, varrer, sujar-me… faço porque o que quero é ter uma equipa boa e que tudo corra bem. Não penso muito em ter vergonha, já fui rececionista, já trabalhei em restaurantes, já fui barmaid, e fi-lo sempre com muita garra e muito orgulho e penso que isso me despertou e abriu outras portas. Porque vais conhecendo as pessoas certas e elas veem como és e não tens de fingir aquilo que não és, e as oportunidades foram surgindo e eu penso que as tenho aproveitado. Fiz tudo com humildade, fui conhecendo as pessoas certas e diziam-me: “Fazes isto bem, se calhar tens jeito para aquilo.” Foi isso.
Foi difícil?
Foi, houve momentos em que precisava de estar mais folgada e é aquele orgulho de não pedires aos teus pais, porque disseste que ias conseguir, mas há momentos em que uma pessoa vai abaixo, mas sempre acreditei que a esperança é a última a morrer e hoje não estamos bem e amanhã estamos melhor e é um dia de cada vez. Nunca controlas o teu estado de espírito, acho que é não desistir, mas se fizeres mal diz que fizeste mal e se fizeste bem exige que as pessoas também reconheçam isso e…. Vive!
Como foi a sua infância?
Feliz, mas afastada da minha terra, com saudades dos meus pais. Houve momentos que senti que estava a estava a ficar muito europeia, mas graças a Deus o “ulélé” nunca saiu de mim, por isso, tive uma infância ótima.
Considera o mundo da moda e da apresentação competitivos?
Sim, todas as áreas são competitivas, temos de ter um brio próprio, mas ser competitiva não quer dizer passar por cima das outras pessoas e ser megera, má com os outros. O karma é uma coisa em que acredito e a competitividade é mais uma forma de cresceres pessoalmente, não de seres má para outras pessoas.
É fácil não se deslumbrar?
É, porque já trabalho neste meio há algum tempo, só agora estou em frente às câmaras, porque trabalhei e continuo a trabalhar por detrás, por isso já conheço minimamente e já estou preparada, mas acredito que há pessoas que nunca tenham estado neste meio e que se deslumbrem com tudo o que está à volta e que depois caem em si. Mas deixa-os estar, deixa-os deslumbrarem-se 15 minutos, não é? As pessoas têm de viver, depois a vida encarrega-se… Espero que seja suavemente!
O que ainda gostava de alcançar profissionalmente?
Como digo, nunca penso, tenho projetos e ideias que gostava de desenvolver, nomeadamente um projeto cultural na Guiné – uma escola profissional e que tenha uma área cultural e social.
E pessoalmente?
Ter saúde, até aos 100 anos!
É uma mulher realizada?
Sinto-me realizada todos os dias. Porque acordo, tenho amigos, o meu filho, trabalho, comida, vivo num país bonito. Sou feliz, como disse, ninguém controla o nosso estado de espírito, mas sou realizada. Não tenho problemas graves, como países com guerra, com fome, com falta de casa, acho que devemos agradecer pelo mínimo que temos, portanto, sou realizada.
Texto: Ana Rocio; Fotografia: José Manuel Marques; Produção: Zita Lopes; Cabelo e maquilhagem: Marta Cruz
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