Júlia Palha
«Caras bonitas há muitas e não estão todas na televisão»

Entrevista

A atriz Júlia Palha, de 21 anos, quer acabar com estigma que ainda existe sobre a beleza feminina, embora perceba que, “por norma, quando és uma cara bonita as coisas são facilitadas”

Dom, 11/10/2020 - 8:00

Aos 21 anos, Júlia Palha é cada vez mais um nome incontornável na ficção nacional. Aos 13 anos, deu os primeiros passos em moda, dois anos depois surge a primeira aventura em televisão e, agora, muitas novelas e alguns filmes depois, a atriz deu o corpo e a cara pela linha Vera da Intimissimi, para que todas as mulheres se sintam bem com o seu corpo, uma luta que vem travando através das redes sociais e até dos poemas que escreve. Para Júlia Palha, a beleza não basta, tem de se ter talento… e não só.

 

VIP – Como se sentiu por ser escolhida para dar a cara (e o corpo) por esta campanha e de que forma é que acha que esta linha pode ser especial, para si e para todas as mulheres?

Júlia Palha – Fiquei muito contente quando recebi o convite, acho que fui escolhida porque sou das influencers que a Intimissimi tem, a que não só tem um corpo mais adequado para esta linha e também acho que tenho tido uma voz forte, nisto que é aceitarmos os nossos corpos como são. Esta é uma campanha que me diz muito, estou sempre a apelar às pessoas que me seguem, principalmente, sabendo que tenho muitas seguidoras mais novas, para que se aceitem como são e esta campanha traz um bocadinho de mim, até porque tem um poema escrito por mim que diz isso, aceitarmo-nos como somos, não é porque o nosso corpo tem mais isto ou menos aquilo que é melhor ou pior. É só teu corpo.

 

Disse que o seu corpo era o indicado para esta campanha, esta linha é uma linha para que tipo de corpo?

É uma linha para quem tem mais curvas, neste caso e mais concretamente, o que mais ajuda é a quem tem o peito maior. Os novos modelos da linha Vera trazem-nos copas até ao F, portanto, vai trazer a possibilidade de terem soutiens com um bom suporte, confortáveis, mas a manter a elegância dos soutiens mais pequenos, que antigamente não tinham copas tão grandes. Desmistificam o mito de que para teres um soutien bom para um peito grande não pode ser bonito.

 

A lingerie pode mudar a confiança com que uma mulher aborda o dia?

Definitivamente. Sim, é estranho, mas quando vais jantar fora e vestes uma lingerie gira, mesmo que ninguém vá ver, vais para um jantar com amigas, são só mulheres à tua volta, mas sentes-te mais confiante. Porque vestiste um conjunto, porque fica-te bem, porque está tudo no sítio. É uma coisa que ninguém vê e que ajuda na tua confiança.

 

Disse que era uma das principais influencers da marca. Influencer, atriz, modelo qual a sua principal faceta?

Sou e defino-me definitivamente como atriz. O que acontece é que uma coisa leva à outra, enquanto atriz, vou ter propostas de marcas que querem trabalhar comigo para campanhas, o que faz de mim um bocadinho modelo, vou trabalhar marcas nas redes sociais, o que faz de mim um bocadinho influencer, portanto, ter como função-base o ser atriz é giro, porque é desconstruíres-te em várias profissões. Que, no fundo, é o que um ator faz, várias pessoas e várias personalidades ao mesmo tempo. Mas sou atriz.

 

Deu os primeiros passos no mundo da moda muito cedo. Foi sempre fácil para si encarar as câmaras e posar, ainda mais numa campanha como esta, que tem de mostrar mais o seu corpo, ou foi um processo de adaptação?

Foi um processo de adaptação, sempre fui uma criança muito tímida, nunca fui de fotos ou de me arranjar, até era meio maria-rapaz, acho que foi um gosto que ganhei. Comecei a experimentar, em fotografias mais editoriais, mais alternativas, porque as poses são mais descontraídas, desligadas, mais secas, com muito mais roupa em cima, para ganhar coragem para fazer coisas mais em pose, mais sensual, como esta campanha, é algo que se aprende a ganhar e a construir.

 

Começou em televisão aos 15 anos, desde então já fez seis novelas, alguns filmes, continua a gravar, qual o segredo desta curta, mas recheada carreira?

Eu acho que sem talento, não consegues ir a lado nenhum, não sendo hipócrita, sei que tenho o talento, mas há outras coisas que não me faltam, como o profissionalismo. Nunca faltei a um dia de trabalho, a menos que tivesse de ir ao hospital com febre, a pontualidade, o seres uma pessoa cordial, simpática, educada, com quem as pessoas gostam de trabalhar, é um bocadinho uma junção de todas. É eu saber que trabalho bem, saber que sou uma boa profissional e que sou uma boa companhia para as pessoas que trabalham ao meu lado. Tudo é importante, ninguém quer trabalhar ao lado de alguém que causa mau ambiente, que nunca está bem.

 

Terá a beleza ajudado?

É difícil, se calhar estou a responder contra aquilo que acho que é uma hipocrisia, ao estar a dar esta resposta, já estou a ser influenciada por uma sociedade que pensa muito assim, sim, acho que por norma quando és uma cara bonita as coisas são facilitadas. Mas isso é um estigma que nos foi metido na cabeça, oiço isso tanto, que quero tirar isso da cabeça. Não é por ser uma cara bonita, caras bonitas há muitas e não estão todas na televisão.

 

A vida é mais fácil ou mais difícil para uma mulher bonita? Às vezes, pode ser mais difícil serem levadas a sério…

Mais depressa a vida é mais facilitada para uma mulher confiante, do que para uma mulher bonita. Porque se és bonita, mas não és confiante, não acreditas em ti, a beleza não te serve de nada.

 

Sentiu alguma vez esse clichê?

Acho que esse clichê vem de histórias e escândalos que aconteciam, que passam muito na Netlfix, em que os realizadores se metiam com as atrizes, acho que isso vem um bocado daí. A partir do momento, em que tu te dás ao respeito e não há nada em ti, na tua pessoa, na tua beleza, que estás a dar a outra pessoa, tu só podes estar lá pelo teu trabalho. Acho que é um estigma que tem de ser acabado.

 

É fácil, aos 21 anos, não deixar a fama subir à cabeça?

Costumo dizer que quero muita coisa nesta vida, tenho sonhos muito altos, quero trabalhar fora, e ainda bem que não tenho conseguido tudo agora. Sinto que o meu crescimento tem sido gradual. Não houve um boom da minha imagem, tenho conseguido as coisas aos poucos e poucos, projeto atrás de projeto, campanha atrás de campanha e acho que isso me tem ajudado a crescer com calma, acho que isso é o mais importante, manter os pés na terra.

 

Texto: Tiago Miguel Simões; Fotos: DR

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