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JÔ CANEÇAS fala sobre o casamento de 28 anos com o empresário

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“O Álvaro é a minha família, o meu pilar, a minha vida”
Chama-se Maria Goreti Guedes, nasceu na Régua, e todos a conhecem por Jô. Casada com o empresário da construção civil Álvaro Caneças há 28 anos, relembrou à VIP os bons e os maus momentos que passou em nome do amor.

Sex, 04/03/2011 - 0:00

 

Chama-se Maria Goreti Guedes, nasceu na Régua, e todos a conhecem por Jô. Casada com o empresário

da construção civil Álvaro Caneças há 28 anos, relembrou à VIP os bons e os maus momentos que passou em nome do amor. Apesar de ter nascido numa família da classe média, cedo veio para Lisboa trabalhar. Desde vender ouro em segunda mão, até se empregar numa fábrica de malas ou bordar lençóis, fez de tudo um pouco para ser independente do pai.

 

 

VIP – Fale-me da sua infância.

Jô Caneças – Fiquei sem mãe muito cedo. Ela tinha 42 anos e eu ainda não tinha 14. Acarinhava-me muito.

 

Foi um choque…

Sofri muito. Ninguém imagina… Senti-me sem chão, sem nada.

 

A sua família era de classe média?

Sim, tínhamos terras e todos trabalhávamos nelas. Tínhamos muita uva, centeio e trigo. Entretanto, o meu pai comprou uma quinta em Aveiro, que ainda hoje temos, mas como vivíamos na Régua, onde eu nasci, quem ficou a tomar conta dessa quinta foi uma irmã do meu pai. Ele tinha mais duas irmãs que viviam em Lisboa e foram elas que nos arrastaram para cá. Conseguiram convencer o meu pai a vir para a Amadora.

 

Foi uma mudança muito grande…

Muito. Acredito que a minha mãe morreu mais depressa por esse desgosto. Nunca se habituou. Depois de a minha mãe morrer, o meu pai foi-se muito abaixo, vendeu as terras da Régua e foi de vez para Aveiro.

 

E a Jô ficou em Lisboa?

Sim, em casa de uma irmã do meu pai.

 

Estudou?

Sim, quando vim para Lisboa fiz o primeiro e segundo ciclo à noite numa escola na Amadora e antes disso estava na Singer a tirar o curso de bordadeira.

 

Lembra-se do seu primeiro trabalho?

Ia todos os dias de Belém, onde morava com a minha tia, para a Amadora. A dada altura, ela disse-me que não ficava bem uma menina da minha idade entrar no prédio à noite e começaram as chatices. Queria trabalhar, mas não sabia fazer nada, só sabia trabalhar na terra. Então fui oferecer-me na fábrica de malas de senhora, a Peixoto Soares. Fiquei como ajudante e ganhava uma miséria, mas como aprendia rápido cheguei a trabalhar numa máquina e a ter uma ajudante. Nem me lembro bem quanto ganhava, mas deu para arranjar um quarto, onde pagava 50 escudos, e fui viver sozinha.

 

O seu pai aprovou?

Não, quando saí de casa da minha tia esteve um ano sem me falar. Foi quase uma desonra para ele, mas tentava ajudar.

 

Foi uma adolescente rebelde?

Sim e uma maria-rapaz. Achava que fazia tudo e não precisava de ninguém. Trabalhava, juntava o que podia, vendi ouro em segunda mão, bordava, enfeitava azulejos com fotografias das pessoas e vendia aquilo tudo.

 

Chegou a passar necessidades?

Costumo dizer que hoje meto as mãos nos bolso e toda a minha roupa tem moedas, mas nessa altura não. Lembro-me de passar numa pastelaria muito boa da Amadora e apetecer-me um café e um bolinho e ficar "com água na boca" porque não tinha dinheiro. Para juntar algum dinheiro, abri a minha primeira conta com 50 escudos.

 

Quando conheceu o Álvaro?

Eu tinha uma grupo muito grande de amigos, a maioria homens, porque as mulheres são muito falsas umas para as outras (isso custa-me muito e fico magoada). Bom, nessa altura havia muito o hábito do Bingo e íamos muito para o Sporting jogar. Sem eu saber, porque nunca nos cruzámos, desse grupo fazia também parte o Álvaro, mas nem sempre ia aos jantares.

 

Era muito namoradeira?

Não. Sempre fui mais arredia e muito desconfiada. Mesmo que não fosse, quando íamos a festas ninguém me vinha buscar para dançar, por causa dos meus amigos. Diziam que eram os meus seguranças e eu dizia que eles só me prejudicavam (risos).

 

Mas ainda não disse como conheceu o seu marido.

Fui à reinauguração de um bar em Lisboa e o Álvaro também foi. Ele diz que estava ao balcão, que me viu e perguntou aos amigos quem eu era. Explicaram-lhe logo e disseram-lhe para tirar "o cavalinho da chuva" porque sabiam que eu não queria ninguém. Mas como ele não parou de insistir, eles ligaram-me a explicar que era divorciado, que tinha dois filhos, que tinha gostado de mim… Lá dei autorização e passado pouco tempo ligou-me a convidar para jantar. Eu tinha 31 anos, a minha vida organizadinha, mas tanto insistiu, que aceitei. No dia 1 de Dezembro de 1984 fomos jantar… ele chegava sempre a horas, abria-me a porta… arranjava sempre forma de me impressionar, um dia aparecia com um Porsche, outro dia com um Jaguar…

 

E impressionou?

Também, porque tinha um objectivo na vida. Não gostava de rapazes novos. Não digo que não os tenha namorado, mas só casaria com uma pessoa mais velha e que tivesse uma vida boa. Sou mulher para viver sozinha e para ajudar seja quem for, mas não sou mulher para ter um homem que me faça de escrava.

 

Estão casados há 28 anos. Namorou muito tempo antes de se casar?

Não, pouco tempo depois casámos. Não fazia sentido ele estar na casa dele e eu na minha. Sempre tive tendência para homens mais velhos. Sempre pensei que um dia, se vivesse com alguém, tinha de ser com uma pessoa mais madura que eu. Achava que as pessoas mais velhas me davam respeito, personalidade e eu não via isso na juventude da minha idade.

 

E se o Álvaro não tivesse aparecido?

Esperava! De certeza que ia encontrar uma pessoa mais velha. Agora, se saísse para jantar com o Álvaro e não gostasse dele não continuava. Mas ele é uma pessoa encantadora, muito sábia, que cativa, tem muito humor, paciência para ouvir as pessoas, lutador e ainda é um homem bonito. O homem que era, a vida que levava e a forma como me tratava… Era mesmo aquela pessoa que eu queria.

 

Mas ele ainda teve um bocado de trabalho para a conquistar.

Teve, porque eu não o conhecia. O grupo de amigos que tínhamos em comum é que me vinha dizer que ele queria falar comigo, porque me viu uma vez, mas eu não me lembro dele. Quando finalmente conseguiu jantar comigo no Visconde da Luz, a maneira dele, a forma como o tratavam… Gostei logo por ser muito charmoso, mas também porque depois do jantar me levou a casa dele e conheci logo o filho, o João. Isso deu-­-me confiança, porque ninguém que vive com a mulher e quer uma amante a leva a casa e a apresenta ao filho. Foi mesmo para ver que estava divorciado.

 

Lembra-se da primeira vez que o Álvaro foi a sua casa?

Sim, uma vez, em conversa, disse-me que gostava muito de jardineira de cabrito. Disse-lhe que um dia fazia para ele porque sabia fazer muito bem. Fiz em casa, convidei­-o para almoçar e claro que ficámos lá a dormir. Lembro-me que ele estava habituado a um conforto que a minha casa não tinha, por isso a certa hora da noite foi vestir um robe meu (risos).

 

Como foi recebida pelo seu enteado?

Aceitou-me bem. O João nunca foi tão rígido como a Rita, mas quando viu que aquilo era a sério mudou um bocadinho. Acho que é normal, porque os filhos querem que os pais fiquem juntos, até entendo. Mas ao fim de praticamente 30 anos, não tem pés nem cabeça.

 

E a Rita?

Acho que a Rita nunca gostou de mim, como não gostaria de qualquer outra pessoa na vida do pai. Nunca lhe fiz mal nenhum.

 

E com o filho do João?

É um querido! Adoro o meu Joãozinho! E ele também me adora. Viveu connosco até aos nove anos.

 

Lamenta de não ter sido mãe?

Com trinta e poucos anos ainda não tinha encontrado ninguém que pudesse dizer "este é o pai dos meus filhos", porque só me estava a ver com um filho se estivesse casada. Quando conheci o meu marido encontrei essa pessoa e houve uma altura que falei nisso, mas lembro-me que o Álvaro me disse: "Oh Jô, o João e a Rita já estão crescidos, nós andamos sempre a viajar e depois temos que andar com uma ama atrás" e ficou por ali. Na realidade acho que não tinha aquele desejo de ser mãe. Depois, os filhos começaram a não me aceitar e houve aqueles problemas todos (sofri muito, nem me quero lembrar, mas sou rija na queda e não sou de me deitar no chão para me passarem por cima), por isso não quis ter filhos, para lhes mostrar que não queria o pai por interesse.

 

O seu sogro sempre a recebeu bem?

Era um homem especial, sempre foi muito querido para mim. Acho que mesmo antes de tudo ter acontecido, ele sabia o que eu ia passar. Quando comecei a ficar em casa do Álvaro, de vez em quando, o meu sogro aparecia só para estar comigo, para me dar força. Naquela altura já começava a sofrer um bocadinho com os meus enteados e, na minha ideia – e juro que é verdade –, achava que podíamos dar-nos todos bem. Separaram-se, mas a vida continuou para ambos… Para mim isto sempre foi um absurdo. Era assim que via as coisas.

 

Ainda tem essa mágoa?

Tenho. E nessa altura desabafava muito com o meu sogro. Ele dizia-me muitas vezes: "Já disse ao meu filho e volto a dizer-lhe: 'vale mais uma perna tua do que a outra toda' (risos). Tinha outra frase que usava muito quando eu estava chateada por não me falarem. Ele dizia: 'lembra-te que metade do sangue é bom, a outra metade é envenenado'"… Dizia isto imensas vezes.

 

Alguma vez pensou desistir?

Houve uma altura que pensei nisso, mas depressa mudei porque não me iam vencer, porque gostava dele. Não ia deixar o Álvaro, não era justo. Mas pensava muitas vezes que não tinha de aturar certas coisas. Estava habituada ao meu pai, com pulso forte, e o Álvaro por causa do divórcio nunca os chamou à atenção, pelo menos à minha frente, e sei que sofria – e ainda hoje sofre – com tudo isto. A alegria dele era que todos nos déssemos bem, não era preciso andar aos beijinhos e abraços, mas pelo menos falar.

 

Já teve problemas por ser tão frontal?

Já, porque ninguém gosta de ouvir as verdades. Se perco um amigo por dizer a verdade, então não é meu amigo. Sou um bocadinho bruta e o Álvaro algumas vezes diz-me que tenho razão, mas que podia dizer as coisas de outra forma. Mas esta é a minha forma de ser. Sofri muito, tive muitas pessoas que se agarraram a mim por interesse e, se o meu marido fosse outro tipo de homem, talvez até o nosso casamento não durasse… Agora "estou-me nas tintas" para isso. Talvez pudesse ter outro tipo de atitude, mas estava a ser impostora comigo mesma. Vou ser sempre a mesma pessoa!

 

Tem a vida com que sonhou?

Tenho. Não sou uma doida que anda a comprar coisas só para mostrar. Podem não acreditar, mas se um dia ganhasse o Euromilhões…

 

Joga?

Às vezes, quando me lembro. Mas se me saísse a taluda era a mesma pessoa. A única coisa que fazia, e que está prometido há muitos anos, era dar um apartamento a cada um dos meus empregados. Está prometido! Sou muito ajudada e ouvida por Deus e, um dia, ainda vou conseguir fazer isso.

 

Mas quem vê a vossa vida, acha que já tem possibilidades para isso…

O que as pessoas não vêem é que quanto mais se tem, mais se gasta. A minha casa tem espaço, mas tem um gasto enorme todos os meses. É bonito assim, porque se a relva estiver da minha altura fica muito feio. Tenho quatro empregados o mês inteiro, mais água, luz e essas coisas todas… Por isso, mantenho o meu apartamento, porque se um dia o meu marido me faltar, eu não vou ficar com um gasto destes. Para já, não me vejo sem ele nem a pagar aquelas despesas todas. Fora os empregados todos que tem na empresa. Isso as pessoas não vêem. Sou eu, são os filhos, os netos, os empregados. O Álvaro é o único pilar para tudo.

 

Esta crise assusta-a?

Assusta! Qualquer pessoa que tem negócios tem despesas com bancos.

 

Pensa que pode ficar sem o Álvaro?

Os homens são muito piegas. Vai fazer 78 anos, graças a Deus é uma pessoa saudável, mas há seis, sete anos, tive um susto muito grande, porque teve um problema na próstata e foi descoberto já muito tarde e já não era operável. Foi a três ou quatro médicos e foi aconselhado a ir aos Estados Unidos. Ficámos lá três meses, porque todos os dias tinha de fazer o tratamento. Nessa altura rezei muito e assim que regressámos fomos a Fátima. Graças a Deus ficou bem e ao fim de cinco anos deram-no como curado, mas tive muito medo, porque me dediquei muito ao Álvaro. É a minha família, o meu pilar, a minha vida. Afastei-me da minha família, não tenho ninguém, não tenho uma colega de escola, uma amiga de infância, não tenho nada aqui e as amigas que arranjei era tudo uma fachada uma falsidade, para irem à minha casa… Agora já não é assim, mas foi.

 

Arrepende-se?

Só de uma coisa e tentava não repetir… Se me apaixonasse por alguém ia pensar duas vezes se essa pessoa tivesse filhos.

 

A vossa felicidade tem um segredo?

Nunca ninguém me pode apontar nada. Sou refilona? Sou, mas tenho muito respeito pelo meu marido. Confiamos um no outro, sei que é honesto comigo e eu com ele.

 

E o amor?

 

Sem o amor eu não vivia. Era incapaz de viver com uma pessoa só por causa do bem-­-estar. Isso sempre tive, menos quando vivi no quartinho, mas isso era orgulho. Claro que há birras, até porque ambos temos um carácter muito forte. Mas acho que nos damos bem por causa disso. O meu marido foi a pessoa certa, mesmo com estes altos e baixos dos filhos. Claro que era muito mais feliz se fosse de outra forma, se todos nos déssemos bem.

 Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuela Costa; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel, com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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