Dia Da Mulher
6 mulheres que vingam no mundo do desporto

Entrevista

No dia da Mulher, apresentamos 6 mulheres que brilham no mundo do desporto, na Sport TV: Daniela Raposo, Carla Coelho, Rita Latas, Marta Grilo, Ana Camboa e Catarina Faustino

Dom, 08/03/2020 - 6:00

Os rostos da Sport TV juntaram-se para se associar ao Dia da Mulher e provar que não têm preconceitos em dar a cara num mundo onde maioritariamente brilham os homens. As pivots e jornalistas contam como chegaram esta profissão dominada, em grande parte, pelo sexo masculino, e como todos os dias marcam posição. Conheça melhor estas mulheres para quem o mundo do futebol não tem segredos.  

Catarina Faustino:  “Há sempre o preconceito”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Catarina Faustino – Desde sempre existiu, pratiquei ginástica, dança e ballet. Na escola, atletismo e desportos de equipa.

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo?
Sim, gosto da área da cultura, cinema, música e literatura.

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
Cada vez há mais mulheres nesta área, mas sim, continua a ser maioritariamente de homens.

O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
Foi mais complicado, porque há sempre o preconceito de que uma mulher não percebe tanto de desporto (ou de futebol) como os homens… na maior parte dos casos é verdade, pelo menos no que respeita ao futebol, pois são maioritariamente os homens que gostam desse desporto.

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
O mesmo conselho que faria em qualquer outra profissão, para se aplicar no que faz.

Como pivot de informação desportiva qual o seu maior desafio?
Dar a informação com credibilidade e ter conhecimento sobre os assuntos em questão.

Como é que avalia o papel da mulher na nossa sociedade?
Muito mudou nas últimas décadas, as mulheres já “saíram” de casa, mas continua a haver grande disparidade de ordenados nas mesmas funções, por exemplo.

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
Penso que é importante assinalar o Dia da Mulher porque continua a existir abuso dos direitos das mulheres em muitas sociedades, é necessário alertar e lembrar que continuam a existir mutilações genitais, apedrejamentos, muitas violações dos direitos humanos. Em Portugal, continua a haver muita violência doméstica e agora, acresce a violência no namoro.

Daniela Raposo: “Foi o futebol que me fez pensar em jornalismo”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Daniela Raposo – Sempre gostei de praticar desporto desde criança. Em casa acompanhava Fórmula 1 com os meus pais. Mais tarde comecei também a gostar muito de ténis e de futebol.

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo que não o desportivo?
Foi o futebol que me fez pensar em jornalismo desportivo. Foi sempre a minha primeira opção. Quando comecei à procura de emprego só enviei currículos para redações de desportivos.

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
Infelizmente, ainda é visto dessa forma, apesar de termos cada vez mais exemplos de jornalistas que gostam e percebem muito de desporto.

O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
Em algumas situações sim. Mas também entrei para o meio sem qualquer experiência e isso também tornou a minha evolução mais lenta.

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
Que nunca desista.

Como é que avalia o papel da mulher na nossa sociedade?
Temos cada vez mais exemplos de mulheres que se destacam nas suas áreas.

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
É importante porque ainda é preciso lutar contra as diferenças que existem.

Que mensagem gostava de deixar sobre o Dia Internacional da Mulher?
Seria bom que não houvesse necessidade de lembrar o dia. Seria sinónimo de que não haveria diferenças entre os géneros.

Carla de Sousa Coelho : “A igualdade só deverá chegar dentro de 208 anos”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Carla de Sousa Coelho – Muito cedo, por influência de um pai apaixonado pelo fenómeno desportivo. Acompanhávamos várias modalidades in loco. O gosto foi desenvolvido na escola graças ao Professor António Martins. Foi graças a ele que comecei a praticar voleibol. Primeiro a nível escolar e depois como atleta federada.

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo que não o desportivo?
Neste momento, não. Embora não rejeite a possibilidade de me aventurar numa outra área do jornalismo.

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
 Penso que amiúde esse paradigma está a ser quebrado. A redação tem muito mais mulheres do que quando entrei (há quase quatro anos). 
O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
 Um pouco. Mas com o tempo isso foi-se esbatendo, com trabalho. Reconheço que pode ter havido alguma desconfiança. Gradualmente, foi sendo posta de parte. Empenho, trabalho, compromisso, brio e dedicação são armas de valor inestimável. 

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
Autenticidade, frontalidade, coragem para ultrapassar obstáculos que ainda existem. Perseverança. Obviamente, que tudo isto tem uma extensão maior. Fazer uso da sua voz.

Como pivot de informação desportiva qual o seu maior desafio?
Garantir que a mensagem que passo para quem acompanha o canal seja o mais credível possível para evitar uma avaliação redutora do meu trabalho. 

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
Para mim, todos os dias são Dia da Mulher.  Valorizo que tenha sido determinado um dia que chame ainda a atenção para o facto de haver um longo caminho a percorrer para que sejamos – mulheres e homens – iguais dentro da nossa diferença. 

Que mensagem gostava de deixar a homens e a mulheres sobre o Dia Internacional da Mulher?
De acordo com um estudo publicado na Harvard Business Review de 2019, a igualdade profissional só deverá chegar dentro 208 anos. 

Marta Grilo: “O jornalismo desportivo continua a ser muito dominado por homens”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Marta Grilo – Deve ter sido bem cedo, teria uns seis/sete anos. Já na escola primária praticava desporto (ginástica rítmica e natação). Depois, sempre se falou de desporto, em especial futebol, em casa dos meus pais. O meu pai é um apaixonado pelo futebol e foi com ele que comecei a ir aos estádios. Na verdade, acho que não tinha grande opção… (risos).

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo que não o desportivo?
Claro que sim. Como jornalistas temos de estar preparados a desafios em áreas distintas… Antes de trabalhar em desporto, escrevi para revistas especializadas noutras áreas.

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
O jornalismo desportivo continua a ser ainda em muito dominado por homens. No entanto, cada vez mais, percebemos que há mulheres a trabalhar na área e ótimas profissionais. É uma questão de tempo, à semelhança de outras profissões. Da mesma forma, tenho consciência de que ainda trabalhamos para um público tendencialmente masculino, ainda que haja cada vez mais mulheres nos estádios e a gostar de desporto. É preciso encarar esta mudança como algo natural. Felizmente, no dia-a-dia não sinto essa diferença. 

 O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
Não senti isso. Pelo contrário, no meu caso, sinto até que o facto de ser mulher funcionou a meu favor na televisão. Digo isto pelo tipo de programa e pelo horário em que tive oportunidade de trabalhar na SportTV. Olhando até àquilo que acontece noutros canais de televisão, a manhã está até bastante representada por profissionais mulheres.

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
Acho que os mesmos que daria a um homem. O importante é nós centramo-nos no trabalho e em crescermos como pessoas e profissionais, independentemente do sexo.

Como pivot de informação desportiva qual o seu maior desafio?
Acho que a condução diária de um programa como a Manhã Informativa tem sido uma grande escola para mim, até porque foi o meu primeiro grande desafio na SportTV. Um espaço de duas horas em direto, de segunda a sexta-feira, com convidados que vêm dar a sua perspetiva sobre as notícias do dia tem sido uma aventura única e que me motiva todos os dias. E facilita muito para enfrentar o toque madrugador do despertador…

Como é que avalia o papel da mulher na nossa sociedade?
Nós, mulheres, temos normalmente associadas qualidades como a sensibilidade, a organização e o método, mas isso pode ser tão redutor como arriscado ao generalizarmos. Aquilo que me parece importante é reforçar o equilíbrio entre mulheres e homens no que respeita às oportunidades, até porque juntos seremos mais fortes.

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
Penso que continua a fazer sentido assinalarmos este dia enquanto houver mulheres que têm desigual acesso ao trabalho, à remuneração, a condições de vida, no geral, em comparação com os homens nas mesmas situações. Não sou apologista de “guerras de sexos” nem me parece benéfico estarmos constantemente a fazer comparações entre géneros, mas no que respeita a estes temas, claramente com impacto na vida das mulheres, temos muito trabalho a fazer. Todos, mulheres e homens.

Que mensagem gostava de deixar a homens e a mulheres sobre o Dia Internacional da Mulher?
O mais importante é perceber que é muito mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa. Pode ser frase feita, mas acho que, de facto, teremos uma sociedade verdadeiramente mais equilibrada quanto mais inclusiva for. Não há benefício algum em prolongar diferenças de acesso, de rendimento, de oportunidades em função do género. Parece incrível isto ainda ser questão em 2020…

Rita Latas “Temos de lutar”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Rita Lemos – Comecei por praticar natação e ténis, mas o futebol era (e é) a modalidade que me apaixonava. Integrei o meu primeiro clube aos dez anos e fui federada em futebol e futsal durante 13 anos. Deixei de jogar apenas quando comecei a trabalhar na área.

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo que não o desportivo?
Não. Foi sempre o tipo de jornalismo que quis exercer e é na área desportiva que quero continuar durante muito tempo. 
 

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
É inegável que a profissão é composta maioritariamente por homens, mas, nos últimos anos, a integração das mulheres tem sido cada vez maior. 

O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
Mais trabalhoso, diria. No entanto, acredito – e tenho essa experiência – que tudo depende do nosso trabalho e a verdade é que me sinto muito respeitada no mundo do 
jornalismo desportivo. Se mostrarmos dedicação e paixão, a possível desconfiança inicial dá lugar à crença. Acabamos por ser reconhecidos pelo nosso profissionalismo. 

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
Perseverança e espírito de sacrifício. Temos de lutar por aquilo que queremos, sabendo reconhecer as nossas forças e as nossas fraquezas.

Como pivot de informação desportiva qual o seu maior desafio?
 Não sou pivot, sou repórter. No entanto, a qualidade com a qual transmito a mensagem e a capacidade de improvisar talvez sejam os maiores desafios. Muito do meu trabalho passa por acompanhar e “relatar” jogos de futebol em direto… 

Como é que avalia o papel da mulher na nossa sociedade?
A mulher tem ganhado cada vez maior preponderância nas diferentes esferas da sociedade, contudo, o processo ainda é longo e vai fazer parte das próximas gerações porque a igualdade de género está longe de ser uma realidade e um objetivo atingido. 

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
É um dia que recorda que já foi feito muito e que ainda há muito por fazer. Um dia que devia ser tido em conta todos os dias de forma natural. Gostava que, em breve, já não fosse necessário recordar que há um dia dedicado às mulheres. Seria sinónimo de evolução.

Que mensagem gostava de deixar sobre o Dia Internacional da Mulher?
Que o respeito pelo outro se sobreponha a ideologias ou crenças que possam quebrar com um processo de evolução igualitário. A distinção entre géneros não pode fazer parte do futuro.

Ana Camboa : “Há uma desconfiança”

VIP – Quando nasceu a paixão pelo desporto?
Ana Camboa – O desporto foi sempre tema bem presente lá em casa. O meu pai era consumidor assíduo de toda a informação desportiva (em todas as modalidades), mas sempre viveu para o futebol (paixão que herdou do meu avô). Acabou mesmo por se tornar a sua profissão. As tardes de domingo eram com ele, nos estádios do País… e percorri muitos. A paixão era dele e a minha vontade de fazer parte, levou-me a interessar-me. 

Imagina-se a fazer outro tipo de jornalismo que não o desportivo?
Quando escolhi ser jornalista, não tinha presente a ideia da “especialização”. Via o jornalismo como um grande poder a favor da sociedade e esse foi sempre o propósito, independentemente da área. Por isso, sim, imaginava.

Sente que, de alguma forma, trabalha numa profissão mais de homens?
É factual. Olhando para os elementos que compõem as redações, continuamos a verificar que, em grande parte delas, os homens ainda existem em maior número. Mas também é factual, que, hoje em dia, a percentagem de mulheres neste “mundo” está a crescer… E, mais importante do que isso, a inclusão das mesmas é cada vez mais natural. 

O seu início de carreira foi mais complicado por se mover num mundo que ainda é visto como mais dos homens?
No meu caso, sim. Há um sentimento de desconfiança relativamente à nossa competência (que é posta em causa, até darmos provas de que somos capazes). Temos de nos esforçar o dobro para provar que somos capazes (ou mesmo que não somos só um rosto bonito). Existe, por vezes,  preconceito e muitas dúvidas sobre se dominamos o tema tão bem quanto os homens. Mas o conhecimento existe independentemente do género. Desde que seja trabalhado. 

Que conselhos daria a uma mulher que está a começar no jornalismo desportivo?
Vão-te fazer duvidar de que és capaz, Não deixes que te convençam disso. Devemos sempre admitir que, à semelhança dos homens, temos as nossas limitações, que podem ser trabalhadas e ultrapassadas. Ter a humildade de reconhecer que não sabemos tudo, mas ter amor-próprio para perceber que também podem aprender connosco. Ter bom caráter sempre, respeito, perseverança, ser resiliente e sempre ambicionar fazer o melhor trabalho, seja qual for a dimensão do desafio que te põem em mãos.

Como pivot de informação desportiva qual o seu maior desafio?
Ser credível na informação que transmito. 

Como é que avalia o papel da mulher na nossa sociedade?
As mulheres sempre tiveram de lutar de forma redobrada para conquistar. O que lhes deu uma combatividade inabalável. As mulheres são cada vez mais decidas e independentes, são igualmente capazes. O papel não difere muito do papel que é exigido aos homens, lembrando que existem características que sempre os vão diferenciar – e essas têm a ver mais com a natureza e não tanto com o intelecto. O que se exige a ambos é que sejam cidadãos exemplares, que formem, que eduquem e que promovam o desenvolvimento e o crescimento em tudo o que se envolvem.

Qual a importância para si do Dia Internacional da Mulher?
Penso que pelo simbolismo que teve à data do seu surgimento. É uma forma de não nos esquecermos onde (nós sociedade)
já estivemos e onde conseguimos chegar. Porque tudo o que a mulher conquistou, hoje parece algo garantido, mas não passaram assim tantos anos desde a época em que, por exemplo, esta entrevista seria impensável. 

Que mensagem gostava de deixar a homens e a mulheres sobre o Dia Internacional da Mulher?
Nunca tanto se falou entre a diferença/igualdade de género. Eu gosto das nossas diferenças. São elas que nos aproximam, são elas que permitem que em equipa nos completemos. São também elas que dão diversidade às empresas e às ideologias. Existem, no entanto, outras igualdades que, de acordo com o género, vão oscilando: a igualdade na credibilidade e sobretudo no respeito. O respeito não devia ter género e devia ser transversal à humanidade.  

Texto: Carla Vidal Dias; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elisabete Guerreiro/Zita Lopes; Cabelos e maquilhagem: Makeup & Styling Fashion Studio Lab

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